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Cássia Eller, 1990: o início impactante de uma intérprete singular

       Lançado em 1990, ‘Cássia Eller’ é o contundente primeiro disco de uma das grandes intérpretes brasileiras. Cássia Eller poderia ser mais uma cantora eclética surgida naquele ano, no rastro do estrondoso sucesso de ‘MM’, álbum de estreia de Marisa Monte. Contudo, o ecletismo de Cássia passava por tribos outras, nem sempre tão populares. O repertório do LP privilegia a Vanguarda Paulista em faixas como ‘Já deu pra sentir’ (Itamar Assumpção/ Marcus Miller), ‘O dedo de Deus’ (Arrigo Barnabé/ Mário Manga) e ‘Não sei o que eu quero da vida’ (Hermelino Neder/ Arrigo Barnabé). A interpretação escancarada de ‘Rubens’, do grupo paulistano Premeditando o Breque, deixou clara a homossexualidade da cantora quando isto ainda causava espanto. O rock nacional, sucesso nos anos 1980, está representado por ‘Barraco’ (Frejat/ Jorge Salomão), e por ‘Que o Deus venha’, (Frejat e Cazuza sobre versos de Clarice Lispector). Único hit do disco, a melancólica gravação de ‘Por enquanto...

'Talismã': Bethânia entre o existencial e o popular - Há 45 anos

          Lançado em 1980, ‘Talismã’ manteve a popularidade e o êxito comercial conquistados por Maria Bethânia com seus álbuns ‘Álibi’ (1978) e ‘Mel’ (1979). Menos sensual e mais existencialista, o disco reúne composições inéditas que se tornaram sucessos, além de regravações de canções dos anos 1950. A tristonha ‘Mentira de amor’ (Lourival Faissal/ Gustavo de Carvalho) e o bolero ‘Eu tenho um pecado novo’ (Alberto Martinez/ Mariano Moares/ versão: Lourival Faissal) foram pinçadas do repertório de Dalva de Oliveira. O samba-canção ‘Cansei de ilusões’ é um clássico de Tito Madi. O mano Caetano comparece com quatro músicas novas: o marcante bolero ‘Vida real’; a delicada ‘Pele’, feita originalmente para Roberto Carlos; o místico samba ‘Gema’ e a impetuosa faixa-título ‘Talismã’, parceria com Waly Salomão. Feliz composição de Dona Ivone Lara, o samba ‘Alguém me avisou’ reúne Bethânia, Caetano e Gilberto Gil e se tornou um dos hits do disco. Gil é o autor de ‘...

Clássico de Milton Nascimento, 'Minas' faz 50 anos

                        Em 1975, Milton Nascimento lançou seu sétimo disco, ‘Minas’, cujo título une as primeiras sílabas de seu nome e sobrenome, e remete a Minas Gerais, casa e fonte de inspiração do cantor e compositor carioca. A expressiva capa reforça a afro-brasilidade do artista e é assinada por Cafi, fotógrafo, Noguchi, diretor de arte, e Ronaldo Bastos, produtor do álbum. Com arranjos de Wagner Tiso e supervisão musical de Milton e Bastos, ‘Minas’ traz instrumentistas excepcionais, como Novelli, Paulinho Braga, Nivaldo Ornelas e Toninho Horta, além das participações de Beto Guedes, Nana Caymmi, Joyce, Fafá de Belém, MPB-4 e Golden Boys. Conduzido pela límpida voz do cantor, o ouvinte viaja por um universo musical que conjuga coros infantis, guitarras agitadas, silêncios inesperados e uma extraordinária e atemporal sonoridade. As ricas experiências sonoras sublinham a dimensão política da obra em faixas como...

'Se dependesse de mim', um disco com a inconfundível marca de Wilson Simonal

               Lançado em 1972, ‘Se dependesse de mim’ marcou a estreia de Wilson Simonal na gravadora Philips. Ídolo inconteste nos anos 1960, Simonal buscava renovação. Para isso, os produtores Nelson Motta e Roberto Menescal optaram por um repertório essencialmente contemporâneo.             A faixa-título (Ivan Lins/Ronaldo Monteiro de Souza) traz versos simbólicos para o momento vivido por Simonal, como “Quero brisas e nunca vendavais”. O samba ‘Noves fora’ (Belchior/Fagner), gravado por Elis Regina, mas deixado de fora de seu LP de 1972, ganhou versão cheia de suingue de Simonal. ‘Expresso 2222’ (Gilberto Gil) circulava na voz de seu compositor e teve seu segundo registro, cujo arranjo passeia por diferentes ritmos. A melodiosa ‘Irmãos de sol’ (Marcos/Paulo Sérgio Valle) intui futuros dias mais bonitos. Em ‘Maria’ (Francis Hime/Vinicius de Moraes), Simonal revive a canção que defendeu ...

Orgulho de um Sambista - Jair Rodrigues e a melancolia dos antigos carnavais

  Jair Rodrigues lançou o álbum ‘Orgulho de um sambista’ pela gravadora Philips em 1973. O samba vivia um momento de revalorização no início da década de 1970 e Jair era um dos principais intérpretes do gênero desde seu disco de estreia, ‘O samba como ele é’ (1964). Em ‘Orgulho de um sambista’, o paulista de Igarapava pôs sua voz poderosa, sua ginga e sua alegria inconfundíveis a serviço de um expressivo repertório. Do conterrâneo Gilson de Souza, Jair gravou quatro composições marcadas por certa melancolia: ‘Sou da madrugada’ (Gilson/ Wando), ‘Carnaval não envelhece’, ‘Folia, carnaval e cinzas’ (Gilson/ Jair Rodrigues) e a faixa-título do disco, que se tornou um sucesso nacional. Como dizia o poeta Vinicius de Moraes: “Pra fazer um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza” – e a mistura de samba, folia e tristeza rendeu outros belos momentos, como ‘Certeza’ (Beto Scala/ São Beto), ‘Estrela do morro’ (Edil Pacheco/ Paulinho Diniz) e o pot-pourri com ‘Ninguém sofre mais...

Nana Caymmi ganhou precioso documentário em 2010

Nana Caymmi (1941 – 2025) é a personagem principal de ‘Rio Sonata’ (2010), documentário dirigido pelo franco-suíço Georges Gachot. “Só mesmo um francês para entender o que faço, para fazer um filme. Público eu tenho em qualquer lugar, mas ele colocou a artista, a intérprete — coisa que o Brasil não conseguiu fazer nas telas porque eu não rendo dinheiro. Chama-se cultura, arte”, disse Nana à época do lançamento. Longe dos clichês cinematográficos, Georges surpreende ao mostrar a cidade natal de Dinahir Tostes Caymmi nublada e ainda mais portentosa como moldura para as canções entoadas por Nana. O mar cantado pelo patriarca dos Caymmi está lá, agitado, dividindo preciosas cenas com a Mata Atlântica que sempre corre o risco de ser encoberta por nuvens. Gachot dá ares impressionistas ao seu filme, sugerindo um sobrevoo pela cidade e pela carreira da cantora. Nada disso desvia a atenção da estrela que fala sobre sua vida, família e carreira nos 84 minutos de duração de ‘Rio Sonata’. O amor ...

A voz do samba - O primeiro disco de Alcione

  “Quando eu não puder pisar mais na Avenida/ Quando as minhas pernas não puderem aguentar/ Levar meu corpo junto com meu samba/ O meu anel de bamba/ Entrego a quem mereça usar”. Ao lançar seu primeiro disco, ‘A voz do samba’, em 1975, Alcione viu os versos melancólicos de ‘Não deixe o samba morrer’ (Edson Conceição/ Aloísio Silva) ganharem o país, tornando-se o primeiro sucesso da jovem cantora. Radicada no Rio de Janeiro desde 1967, a maranhense cantava em casas noturnas que marcaram época nas noites cariocas. Nestas apresentações, seu abrangente repertório incluía diferentes gêneros da música brasileira, além de canções francesas, italianas e norte-americanas também presentes no rádio. Enquanto isso, o samba conquistava novos espaços na década de 1970. Em 1974, Clara Nunes viu sua carreira firmar-se nacionalmente com o disco ‘Alvorecer’, do sucesso de ‘Conto de areia’ (Romildo Bastos/ Toninho Nascimento). No mesmo ano, Beth Carvalho obteve seu primeiro êxito como sambista com ‘1...

Galeria do Amor 50 anos – Timóteo fora do armário (ou quase)

  Agnaldo Timóteo lançou o disco ‘Galeria do amor’ em 1975. Em pleno regime militar, o ídolo popular, conhecido por sua voz grandiloquente e seu temperamento explosivo, ousou ao compor e cantar a balada sobre “um lugar de emoções diferentes/ Onde a gente que é gente/ Se entende/ Onde pode se amar livremente”. A canção, que se tornaria um sucesso nacional, foi inspirada na famosa Galeria Alaska, antigo ponto de encontro dos homossexuais na Zona Sul carioca – o que passaria despercebido por boa parte de seu público conservador. O mineiro de Caratinga já havia suscitado a temática gay no disco ‘Obrigado, querida’, de 1967. A romântica ‘Meu grito’, feita por Roberto Carlos para a sua futura mulher, Nice, ganhou outras conotações na voz poderosa de Timóteo. “Ai que vontade de gritar seu nome, bem alto no infinito (...), só falo bem baixinho e não conto pra ninguém/ pra ninguém saber seu nome, eu grito só ‘meu bem'”, canta Agnaldo, que nunca assumiria sua suposta homossexualidade. ...

50 anos de Claridade

Clara Nunes (1942 – 1983) viu sua carreira deslanchar na década de 1970, quando trocou os boleros e um romantismo acentuado pela cadência bonita do samba, uma mudança idealizada pelo radialista e produtor musical Adelzon Alves. Depois do sucesso do LP ‘Alvorecer’, de 1974, impulsionado pelas faixas ‘Menino deus’ (Mauro Duarte/ Paulo César Pinheiro), ‘Alvorecer’ (Délcio Carvalho/ Ivone Lara) e ‘Conto de areia’ (Romildo/ Toninho Nascimento), a cantora mineira reafirmou sua consagração popular com o álbum ‘Claridade’. Lançado em 1975, este disco vendeu 600 mil cópias, um feito excepcional para um disco de samba, para uma cantora e, sobretudo, para um disco de samba de uma cantora. Traço marcante na trajetória artística e na vida de Clara Nunes, o sincretismo religioso está presente nas faixas ‘O mar serenou’ (Candeia) e ‘A deusa dos orixás’, do pernambucano Romildo e do paraense Toninho Nascimento, os mesmos autores de ‘Conto de areia’. Eles frequentavam o célebre programa no qual Adelzon...

Joias musicais de Gilberto Gil são reeditadas

               A Universal Music reabre seu baú de preciosidades. Desta vez, a dona do maior acervo musical do país, traz duas joias do cantor, compositor e violonista Gilberto Passos Gil Moreira, recentemente eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras. De 1971, o disco londrino, ‘Gilberto Gil’, reaparece em nova edição em vinil, enquanto ‘Refestança’, registro do histórico encontro de Gil e Rita Lee, de 1977, finalmente ganha versão digital.             Gravado durante o exílio do artista baiano em Londres, o quarto LP de estúdio de Gilberto Gil foi produzido por Ralph Mace para o selo Famous e editado no Brasil pela Philips, atual Universal Music. O produtor inglês também trabalhava com Caetano Veloso, que havia lançado seu primeiro disco de exílio no mesmo ano. Contrastando com a melancolia expressada por Caetano, Gil fez um álbum mais equilibrado, dosando as saudades do Brasil...

Todo veneno vivo, um vigoroso retrato de Cássia Eller

                               Cássia Eller era um bicho de palco. Nesse habitat especial, sua notória timidez dava lugar à exuberância artística da cantora, cuja voz rascante marcou a música brasileira nos anos 1990. Apresentações viscerais, calcadas nos seus admiráveis recursos vocais e na intuição própria aos grandes intérpretes, transformavam os shows de Cássia em experiências estéticas inesquecíveis.           Durante três noites de dezembro de 1997, no Teatro Rival, no Rio de Janeiro, a gravadora Polygram, atual Universal Music, registrou a turnê de lançamento do disco Veneno antimonotonia , tributo a Cazuza, produzido pelo poeta multimídia Waly Salomão, diretor do antológico show/disco Fa-tal , de Gal Costa. O encontro entre Cássia e Waly, que também dirigiu o show, rendeu um espetáculo de som e fúria ainda mais potente que o álbum de estúdio. Ela era fera indo...

Lança Perfume, 40 anos depois

Lançado em setembro de 1980 pela gravadora Som Livre, o oitavo disco solo de Rita Lee traz seu nome como título, mas ficou conhecido como Lança perfume , devido ao estrondoso sucesso da faixa que abre o lado A do long play . A contagiante marchinha pop carnavalesca (que cita Alah la ô , um clássico do gênero) com doses de disco music (a introdução que remete a What a Fool Believes , da banda The Doobie Brothers) ganhou rapidamente as programações musicais das rádios do país. Símbolo de antigos carnavais, o lança-perfume, originalmente criado para que os foliões borrifassem essências perfumadas uns nos outros, estava proibido desde a década de 1960 por seus efeitos alucinógenos. Contudo, o artefato-fetiche voltou à boca do povo graças à composição de Rita Lee e Roberto de Carvalho. Cabe lembrar que, com sua renovadora sacada pop, Lee e Carvalho produziram o melhor da marchinha carnavalesca por pelo menos três décadas. Além do Brasil, Lança perfume também fez sucesso na França, país ...

'Abraçar e agradecer' registra momentos especiais de Maria Bethânia

Em janeiro de 2015, Maria Bethânia estreou ‘Abraçar e agradecer’ (clique aqui para ler a resenha), o show comemorativo dos seus 50 anos de carreira, no Rio de Janeiro. Em fevereiro de 2016, a baiana de Santo Amaro da Purificação passou pela Marquês de Sapucaí, desfilando e sendo reverenciada pela escola de samba Estação Primeira de Mangueira. Os dois memoráveis eventos fazem parte de ‘Abraçar e agradecer’, DVD duplo finalmente lançado pela gravadora Biscoito Fino. O belo espetáculo em que a majestosa dama movimenta-se sobre seu colorido tabuleiro de Led foi captado em agosto deste ano, em São Paulo. O tempo fez bem ao belo show dividido em 41 números, entre canções e textos. Estão lá os autores essenciais como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Clarice Lispector e Fernando Pessoa. Ostentando a felicidade da estreia, Bethânia domina a cena com seu arsenal interpretativo e sua voz segura, acompanhada por músicos competentes. Para deleite do espectador, a câmera, seduzi...

'Suíte três rios', a música universal de Dan Costa

Nascido em Londres, o pianista e compositor Dan Costa lança seu primeiro álbum, ‘Suíte três rios’ ( ouça aqui )  Inspirado na música brasileira, que Dan ouve desde cedo, quando as canções de Tom Jobim enchiam sua casa, de família meio portuguesa, meio italiana, e no tempo em que estudou piano na UNICAMP, o álbum foi gravado no Rio de Janeiro. Para acompanhá-lo, o jovem artista arregimentou um time de excelentes músicos composto por Jaques Morelenbaum (cello), Ricardo Silveira (guitarra), Marcelo Martins (sax alto e tenor), Rafael Barata (bateria e pandeiro), Vittor Santos (trombone), Alberto Continentino (baixo), Teco Cardoso (sax barítono), Marcos Suzano (percussão). A cantora Leila Pinheiro dá voz à dissonante ‘Bossa Nova’, cuja letra cita o encontro das águas dos rios Negro e Solimões, inspiração para o nome do disco. O jazz, influenciado por gêneros musicais brasileiros que nomeiam a maioria das faixas – ‘Chorinho’, ‘Samba’, ‘Baião’, ‘Maracatu’ e ‘Modinha’, além da já c...

Enredo singular do artista é destaque no Sambabook Jorge Aragão

A quinta edição da série multimídia ‘Sambabook’, concebida pela empresa Musikeria, presta tributo a Jorge Aragão, cantor e compositor carioca que comemora 40 anos de carreira contados a partir da gravação de ‘Malandro’ (Aragão/ Jotabê), lançada por Elza Soares em 1976. Como de costume, a escalação dos cantores mistura renomados sambistas, como Martinho da Vila (‘Coisa de pele’), Beth Carvalho (‘Pedaço de ilusão’) e Zeca Pagodinho (‘Quintal do céu’) e artistas vinculados a outros gêneros musicais, como Anitta (‘Coisinha do pai’), Lenine (‘Toque de malícia’) e Ivan Lins (‘Alvará’). Apesar da relativa diversidade de convidados, as novas versões sofrem com a excessiva reverência que acompanha a série, que já homenageou João Nogueira (1941 – 2000), Martinho da Vila, Zeca Pagodinho e Dona Ivone Lara. Seguindo à risca os arranjos originais, o ‘Sambabook’ engessa a criatividade dos intérpretes. Ainda assim, a força da natureza chamada Elza Soares se sobressai em ‘Identidade’ (Aragão), samb...

O samba original - e de fato - de Pedro Miranda

Um amulatado Pedro Miranda estampa a capa de ‘Samba original’, terceiro – e excelente – disco solo deste cantor e músico carioca, que ganhou notoriedade tocando no Grupo Semente, na Lapa. A foto remete à figura romanceada dos sambistas da primeira metade do século passado, de onde, não por acaso vem algumas pérolas do irretocável repertório. Pequenas belezas das quais Pedro espanou a poeira do tempo, restaurando-as com esmero e precisão, e dando-lhes contemporaneidade. De 1932 vem o clássico ‘A razão dá-se a quem tem’, de Ismael Silva e Noel Rosa. Gravado originalmente por Francisco Alves (1898 – 1952) e Mario Reis (1907 – 1981), a nova versão ganha as vozes macias de Pedrinho e de Caetano Veloso, convidado na faixa, num dueto que faz jus aos primeiros intérpretes. Também dos anos 1930, é o engraçado ‘Se passar da hora’, de Baiaco e Boaventura dos Santos, ou melhor, de Osvaldo Vasques, um dos fundadores da primeira escola de samba, a ‘Deixa falar’, e de Ventura, portelense de prime...

'Dorina canta sambas de Aldir & ouvir' atesta a fé na arte de cantar

Em sua estreia fonográfica, em 1996, Dorina já anunciava: “Eu canto samba”. A famosa composição de Paulinho da Viola deu nome ao primeiro disco da cantora carioca. De lá para cá, Dorina lançou mais sete álbuns, entre os quais, ‘Sambas de Almir’ (2003) e ‘Sambas de Luiz’ (2013), dedicados, respectivamente, às obras dos sambistas Almir Guineto e Luiz Carlos da Vila (1949 – 2008). Na noite de quinta-feira, 16 de junho de 2016, Dorina estreou seu novo show no Teatro Ziembinski, ‘Dorina canta sambas de Aldir & ouvir’ que, tomara, ganhe registro em disco. Dedicado ao letrista Aldir Blanc, que comemora 70 anos em setembro, o show traz a cantora em grande forma, surpreendendo o público ao se distanciar momentaneamente dos temas mais buliçosos de quadra e terreiro que pontuam sua discografia. Acompanhada por Paulo 7 Cordas, Ramon Araújo (violão) e Rodrigo Reis (percussão), Dorina amacia seu canto para desfiar o repertório que equilibra sucessos e joias menos conhecidas do mítico comp...

Em boa forma, Fernanda Abreu volta à cena com 'Amor geral'

Precursora do uso de samples e beats eletrônicos na década de 1990, Fernanda Abreu está de volta com ‘Amor geral’ (Garota Sangue Bem/ Sony Music). Doze anos após ‘Na paz’, seu último disco de estúdio, Fernanda atualiza seu suingue, escalando novos parceiros e produtores, sem perder a sonoridade personalíssima, marca indelével de sua carreira solo. Essencialmente romântico, ainda que muitas vezes dançante, ‘Amor geral’ relata partidas e chegadas, romances e cenas cotidianas sob a ótica otimista da cantora e compositora carioca. Produzida por Pedro Bernardes, a faixa ‘Outro sim’ (Fernanda Abreu/ Gabriel Moura/ Jovi Joviniano) abre a pista de dança contemporânea com o sedutor arranjo eletrônico embalando a letra esperta: “Sempre haverá outra esquina/ Outra beleza, outro cara, outra mina/ Sempre haverá um mané, sem noção, um otário/ Querendo atrasar”. Igualmente irresistível é ‘Tambor’ (Fernanda Abreu/ Gabriel Moura/ Jovi Joviniano/ Afrika Bambaataa), na qual Fernanda mais uma vez re...

'Música e maresia' traz à luz o pop de Dulce Quental

  Surgida na década de 1980, como vocalista do grupo feminino Sempre Livre, a cantora e compositora carioca Dulce Quental está lançando ‘Música e maresia’, álbum em que reúne canções gravadas nos anos 1990, principalmente em 1994, que permaneciam inéditas na sua voz. Concebido por Dulce, que também assina a produção juntamente com Mariano Klautau Filho e Leo Bitar, ‘Música e maresia’ sai pelo selo Cafezinho Edições, por ora em formato digital – uma edição em vinil está prevista em junho. Acompanhada por músicos como Nilo Romero (produtor musical do disco embrionário que gerou o novo projeto), Jaques Morelenbaum, Marcelo Costa, Sasha Amback e por seu principal parceiro, Robert Frejat, Dulce Quental desfia um rosário de pérolas pop, que brilham com maior e menor intensidade. Ainda que a compositora seja mais interessante – com seu depurado estilo pop com conteúdo –, a cantora dos antigos sucessos ‘Sou free’ (Ruban/ Patrícia Travassos), ‘Esse seu jeito sexy de ser’ (Patrícia Trav...

Arranjos elegantes revestem 'Nas estâncias de Dzyan'

Cantor, compositor e instrumentista, Juliano Gauche lança ‘Nas estâncias de Dzyan’ pelo selo EAEO. Radicado em São Paulo desde 2010, o artista capixaba parece bem ambientado na cena musical contemporânea paulistana, como indicam os arranjos elegantemente vintages assinados por Junior Boca e Tatá Aeroplano, com destaque para a faixa-título, ‘Nas estâncias de Dyzan’, inspirada nos conceitos de teosofia de Helena Petrovna Blavatsky  (1831 - 1891), escritora russa cuja obra também influenciou o cantor e compositor carioca Jorge Vercillo no disco ‘ Como diria Blavatsky’ (2011).   ‘Clarão’ e ‘Muito esquisito’ são outros bons momentos, realçados pelos arranjos, pontuados por belos timbres.  Juliano (voz e violão), que assina a produção e oito das nove faixas, é acompanhado Junior Boca (guitarra e violão), João Leão (teclados), Daniel Lima (baixo) e Gustavo Souza (bateria).   Gauche explicita sua inadequação existencial em letras diretas, sem floreios. “Sim, tudo isso v...