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'Música e maresia' traz à luz o pop de Dulce Quental

 
Surgida na década de 1980, como vocalista do grupo feminino Sempre Livre, a cantora e compositora carioca Dulce Quental está lançando ‘Música e maresia’, álbum em que reúne canções gravadas nos anos 1990, principalmente em 1994, que permaneciam inéditas na sua voz. Concebido por Dulce, que também assina a produção juntamente com Mariano Klautau Filho e Leo Bitar, ‘Música e maresia’ sai pelo selo Cafezinho Edições, por ora em formato digital – uma edição em vinil está prevista em junho. Acompanhada por músicos como Nilo Romero (produtor musical do disco embrionário que gerou o novo projeto), Jaques Morelenbaum, Marcelo Costa, Sasha Amback e por seu principal parceiro, Robert Frejat, Dulce Quental desfia um rosário de pérolas pop, que brilham com maior e menor intensidade. Ainda que a compositora seja mais interessante – com seu depurado estilo pop com conteúdo –, a cantora dos antigos sucessos ‘Sou free’ (Ruban/ Patrícia Travassos), ‘Esse seu jeito sexy de ser’ (Patrícia Travassos/ Evandro Mesquita/ Lui) e ‘Fui eu’ (Herbert Vianna) dá conta do recado de forma satisfatória. ‘Música e maresia’ começa muito bem com ‘Ao som de um tambor’ (Roberto Frejat/ Dulce Quental), lançada por Dinho Ouro Preto em seu segundo álbum solo, em 1995. Um toque oriental permeia a faixa de tom místico-existencialista, valorizada pelo cello de Jaques Morelembaun e a percussão de Sidinho. Com sua letra esperta e arranjo azeitado, ‘Eternamente no coração’ (Roberto Frejat/ Dulce Quental), mantém o álbum num crescente. Gravada por Simone no álbum ‘Seda pura’ (2001), ‘Antes de acordar’ (Roberto Frejat/ Dulce Quental) reaparece repaginada com o bom arranjo eletrônico de Sacha Amback. A balada blues ‘Guarda essa canção’ (Roberto Frejat/ Dulce Quental) e a folk ‘Vida frágil’ (Roberto Frejat/ Rodrigo Santos/ Dulce Quental), lançadas pelo Barão Vermelho no disco ‘Carne crua’ (1994), soam corretas. Lembrando ‘O tempo não para’ (Arnaldo Brandão/ Cazuza), a faixa-título, ‘Música e maresia’ (George Israel/ Dulce Quental, 1991), não empolga e marca certa queda de interesse, que permanece em ‘Púrpura’ (Luís Sérgio Carlini/ Dulce Quental), incluída na trilha sonora da novela ‘Lua cheia de amor’, em 1990. ‘Dia a dia’ (Roberto Frejat/ Dulce Quental) se conecta às boas faixas iniciais, apesar do ar oitentista inexistente naquelas. O mutante Sergio Dias assina o arranjo de ‘Girassóis azuis’ (George Israel/ Dulce Quental), lançada em ‘4 letras’, primeiro disco solo de George Israel. Única faixa assinada apenas por Dulce, ‘Último vagão do trem’ traz mensagem idealista: “Vive e deixe viver a quem você quer bem”, receita Quental. Lançada por Leila Pinheiro no bom CD ‘Na ponta da língua’ (1998). ‘Amor, perigoso amor’ (Roberto Frejat/ Dulce Quental) não bisa a sedução da gravação original da artista paraense. Longe dos holofotes que iluminaram a “festa ploc” que parece não ter fim, Dulce Quental construiu uma interessante carreira como compositora. ‘Música e maresia’ ilumina parte desta produção com classe.

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