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'Se dependesse de mim', um disco com a inconfundível marca de Wilson Simonal

 


            Lançado em 1972, ‘Se dependesse de mim’ marcou a estreia de Wilson Simonal na gravadora Philips. Ídolo inconteste nos anos 1960, Simonal buscava renovação. Para isso, os produtores Nelson Motta e Roberto Menescal optaram por um repertório essencialmente contemporâneo.

            A faixa-título (Ivan Lins/Ronaldo Monteiro de Souza) traz versos simbólicos para o momento vivido por Simonal, como “Quero brisas e nunca vendavais”. O samba ‘Noves fora’ (Belchior/Fagner), gravado por Elis Regina, mas deixado de fora de seu LP de 1972, ganhou versão cheia de suingue de Simonal. ‘Expresso 2222’ (Gilberto Gil) circulava na voz de seu compositor e teve seu segundo registro, cujo arranjo passeia por diferentes ritmos. A melodiosa ‘Irmãos de sol’ (Marcos/Paulo Sérgio Valle) intui futuros dias mais bonitos. Em ‘Maria’ (Francis Hime/Vinicius de Moraes), Simonal revive a canção que defendeu no Festival Internacional da Canção de 1966.

Autor de ‘Cavaleiro de Aruanda’, hit de Ronnie Von naquele ano, o argentino Tony Osanah assina as místicas ‘Saravá’ e ‘Guerra e paz nas alturas’. Românticas, as baladas ‘A quem interessar possa’ (Wilson Simonal/Luiz Cláudio Ramos) e ‘Não me deixe sozinho’ (Luiz Américo/Braguinha) são momentos mais suaves do disco.

Com sua personalíssima divisão rítmica, Simonal imprime leve sotaque jazzístico a ‘Feitiço da Vila’ (Noel Rosa/Vadico), eleva os sambas ‘Quarto de Tereza’ (Tom/Dito) e ‘Ninguém tasca (O gavião)’ (Miguel Pereira/João Quadrado) e nos oferece uma incendiária versão de ‘Mexerico da Candinha’ (Roberto Carlos/Erasmo Carlos).

Apontando novos rumos, o álbum ‘Se dependesse de mim’ merece ser ouvido com atenção. Excepcional intérprete, Simonal deixou sua inconfundível marca em todas as faixas.




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