Pular para o conteúdo principal

'Pra mim você é lindo' traz Katia B em sua melhor forma



A carioca Katia B chega ao quarto disco de sua bissexta discografia em sua melhor forma, conjugando diferentes vertentes da música popular brasileira – e até mesmo a principal canção de uma opereta iídiche de 1932, cujo verso traduzido dá nome ao disco: Bei Mir Bistu Du Shon (Sholom Secunda e Jacob Jacobs) – ‘Pra mim você é lindo’. A cantora, que também produziu o CD ao lado de Bernardo Bosísio, ainda exercita o inglês (Where is your?) e o francês (Le temps de I’amour, de Dutronc, Morisse e Salvet) em boas interpretações.
Katia B(ronstein) atua em um setor da MPB nem sempre assimilável para o chamado grande público, uma elaborada música eletrônica distante dos clichês sonoros de remixes feitos para tocar no rádio. Ao canto econômico e sedutor, juntaram-se boas composições da artista como a linda ‘Aprendendo a viver’ (c/ Rubinho Jacobina), faixa que abre o disco.  O encanto permanece em ‘O baile’ (c/ Jam da Silva) e em ‘A tua vida é um segredo’, composição pouco conhecida de Lamartine Babo, feita por encomenda para o cantor Mário Reis, em 1933. Ainda longe das obviedades, Katia buscou na obra de Caetano Veloso a sensual ‘Sete mil vezes’, lançada por Maria Bethânia no álbum ‘Alteza’ (1981). Felizmente Babo e Veloso são visitados com propriedade, em versões afastadas de qualquer intento tributário.  Na comparação entre as baladas ‘Armadilha’ (Dé Palmeira/ Teresa Cristina/ Katia B) e ‘Seis vidas’ (Charles Gavin/ Katia B/ Bernardo Bosisio) a segunda sobressai, auxiliada pelo bom arranjo.  ‘Pra mim você é bonito’ gira delicadamente durante a valsa ‘Sem história’ (Antonio Saraiva) e termina lá no alto, com ‘Depois do bloco’ (Vik Barone/ Katia B) etérea marcha contemporânea. Cercada de excelentes músicos Katia B soa verdadeiramente cool, se mantendo longe da prosaica gritaria que domina parte da cena musical brasileira.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A voz do samba - O primeiro disco de Alcione

  “Quando eu não puder pisar mais na Avenida/ Quando as minhas pernas não puderem aguentar/ Levar meu corpo junto com meu samba/ O meu anel de bamba/ Entrego a quem mereça usar”. Ao lançar seu primeiro disco, ‘A voz do samba’, em 1975, Alcione viu os versos melancólicos de ‘Não deixe o samba morrer’ (Edson Conceição/ Aloísio Silva) ganharem o país, tornando-se o primeiro sucesso da jovem cantora. Radicada no Rio de Janeiro desde 1967, a maranhense cantava em casas noturnas que marcaram época nas noites cariocas. Nestas apresentações, seu abrangente repertório incluía diferentes gêneros da música brasileira, além de canções francesas, italianas e norte-americanas também presentes no rádio. Enquanto isso, o samba conquistava novos espaços na década de 1970. Em 1974, Clara Nunes viu sua carreira firmar-se nacionalmente com o disco ‘Alvorecer’, do sucesso de ‘Conto de areia’ (Romildo Bastos/ Toninho Nascimento). No mesmo ano, Beth Carvalho obteve seu primeiro êxito como sambista com ‘1...

Galeria do Amor 50 anos – Timóteo fora do armário (ou quase)

  Agnaldo Timóteo lançou o disco ‘Galeria do amor’ em 1975. Em pleno regime militar, o ídolo popular, conhecido por sua voz grandiloquente e seu temperamento explosivo, ousou ao compor e cantar a balada sobre “um lugar de emoções diferentes/ Onde a gente que é gente/ Se entende/ Onde pode se amar livremente”. A canção, que se tornaria um sucesso nacional, foi inspirada na famosa Galeria Alaska, antigo ponto de encontro dos homossexuais na Zona Sul carioca – o que passaria despercebido por boa parte de seu público conservador. O mineiro de Caratinga já havia suscitado a temática gay no disco ‘Obrigado, querida’, de 1967. A romântica ‘Meu grito’, feita por Roberto Carlos para a sua futura mulher, Nice, ganhou outras conotações na voz poderosa de Timóteo. “Ai que vontade de gritar seu nome, bem alto no infinito (...), só falo bem baixinho e não conto pra ninguém/ pra ninguém saber seu nome, eu grito só ‘meu bem'”, canta Agnaldo, que nunca assumiria sua suposta homossexualidade. ...

Joias musicais de Gilberto Gil são reeditadas

               A Universal Music reabre seu baú de preciosidades. Desta vez, a dona do maior acervo musical do país, traz duas joias do cantor, compositor e violonista Gilberto Passos Gil Moreira, recentemente eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras. De 1971, o disco londrino, ‘Gilberto Gil’, reaparece em nova edição em vinil, enquanto ‘Refestança’, registro do histórico encontro de Gil e Rita Lee, de 1977, finalmente ganha versão digital.             Gravado durante o exílio do artista baiano em Londres, o quarto LP de estúdio de Gilberto Gil foi produzido por Ralph Mace para o selo Famous e editado no Brasil pela Philips, atual Universal Music. O produtor inglês também trabalhava com Caetano Veloso, que havia lançado seu primeiro disco de exílio no mesmo ano. Contrastando com a melancolia expressada por Caetano, Gil fez um álbum mais equilibrado, dosando as saudades do Brasil...