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Em busca de popularidade, Thais Macedo troca dengo por borogodó

Após a promissora estreia fonográfica em 2011, com ‘O dengo que a nega tem’ (Independente), disco que trazia sambas inéditos e regravações, com arranjos de Carlinhos Sete Cordas, Rildo Hora e Ivan Paulo, a cantora fluminense Thais Macedo está de volta com ‘Borogodó’ (Independente). Mirando as paradas de sucesso das rádios populares, Thais aposta na trivialidade do pagode romântico que ainda domina estas emissoras. Para isso se cercou de nomes recorrentes na cena pagodeira contemporânea, como o produtor Prateado e os compositores Leandro Fab, Luiz Cláudio Picolé e Fred Camacho, entre outros. A agradável voz, que já deixara boa impressão no primeiro disco, permanece interessante assim como suas interpretações. Contudo, o repertório não chega a empolgar. O discurso impresso na quase totalidade das faixas retrata a banalização dos relacionamentos amorosos, colocando em pé de igualdade homens e mulheres, sempre dispostos a dar a decisão e, no final das contas, a cair na gandaia. Não há mais espaço para sutilezas, o papo é sempre reto, como fica claro nas inéditas ‘Meu nego’ (Luiz Cláudio Picolé/ Wilson Prateado) e ‘Se é pra fazer, faz direito’ (Marcelinho Moreira/ Fred Camacho), ou na regravação de ‘Amor sem fim’ (Xande de Pilares/ Juliana Diniz), sucesso do Grupo Revelação. Com seu balanço pop e trechos melódicos que lembram ‘Sinais de fogo’ (Ana Carolina), ‘A seu critério’ (Pretinho da Serrinha/ Leandro Fab) poderia estar em um dos volumes das ‘Músicas para churrasco’ de Seu Jorge. O canto enérgico de Thais lustra a música-título, ‘Borogodó’ (Dênio Braga/ Orlando Emmerich), e ‘Hoje, só nós dois’ (Marcelinho Moreira/ Fred Camacho/ Cassiano Andrade) – as melhores faixas do CD. A dispensável inclusão de ‘Paciência’ (Lenine/ Dudu Falcão), lembra o antigo e cíclico flerte dos pagodeiros com o Pop e a MPB, que ainda não gerou versão significativa. Ao trocar o ‘dengo’ pelo ‘borogodó’, Thais Macedo não consegue fugir da obviedade. E ela pode ir além.

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