Pular para o conteúdo principal

Exuberante, 'Atento aos sinais' ganha edição em DVD

Concebido por Ney Matogrosso na contramão do manjado esquema ‘CD de estúdio-show-DVD ao vivo’, o show ‘Atento aos sinais’ reúne em seu primoroso roteiro, apresentado pela primeira vez em fevereiro de 2013, canções que o cantor só viria a registrar em estúdio no álbum homônimo lançado em novembro do mesmo ano. Enfim chega às lojas ‘Atento aos sinais ao vivo’, CD/DVD gravado em junho de 2014, na casa de espetáculos HSBC Tom Brasil, em São Paulo (SP). Dirigido por Felipe Nepomuceno, o registro audiovisual resulta bonito, preservando (mais) um grande momento da carreira de Ney. As belas imagens exibidas nos painéis de LED durante as apresentações surgem como vinhetas entre os números musicais, dando ares de vídeo clip à filmagem. Finalmente podemos ter em casa a linda versão da poética ‘Astronauta lírico’ (Vitor Ramil), número que originalmente encerrava o bis de ‘Atento aos sinais’ antes que Ney adicionasse outras canções ao longo da turnê. Antigos e novos compositores, como Caetano Veloso, Roberto Frejat e Criolo, cujas canções fazem parte do roteiro, comentam suas criações nos extras, no documentário ‘Há minutos atrás (Poema)’, mesmo nome da parceria póstuma de Frejat e Cazuza (1958 – 1990), lançada por Ney no disco ‘Olhos de Farol’ (1999) e incluída em ‘Atento aos sinais’ por fazer parte da trilha sonora da novela global ‘Sangue Bom’. Contudo, ‘Poema’ se integra bem ao roteiro, o que não acontece com ‘Ex-amor’, samba de Martinho da Vila, gravado por Ney no ‘Sambabook’ dedicado ao sambista de Vila Isabel, que surge desarticulado, pelo tema e pela sonoridade pop da azeitada banda. Melhor rever os impactantes números iniciais, como ‘Rua da passagem (trânsito)’ (Arnaldo Antunes/ Lenine) e ‘Incêndio’ (Pedro Luís), ou a maravilhosa recriação de ‘Roendo as unhas’ (Paulinho da Viola). Lançado pela gravadora Som Livre, ‘Atento aos sinais ao vivo’ eterniza um dos mais exuberantes shows de MPB nos últimos tempos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Joias musicais de Gilberto Gil são reeditadas

               A Universal Music reabre seu baú de preciosidades. Desta vez, a dona do maior acervo musical do país, traz duas joias do cantor, compositor e violonista Gilberto Passos Gil Moreira, recentemente eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras. De 1971, o disco londrino, ‘Gilberto Gil’, reaparece em nova edição em vinil, enquanto ‘Refestança’, registro do histórico encontro de Gil e Rita Lee, de 1977, finalmente ganha versão digital.             Gravado durante o exílio do artista baiano em Londres, o quarto LP de estúdio de Gilberto Gil foi produzido por Ralph Mace para o selo Famous e editado no Brasil pela Philips, atual Universal Music. O produtor inglês também trabalhava com Caetano Veloso, que havia lançado seu primeiro disco de exílio no mesmo ano. Contrastando com a melancolia expressada por Caetano, Gil fez um álbum mais equilibrado, dosando as saudades do Brasil...

50 anos de Claridade

Clara Nunes (1942 – 1983) viu sua carreira deslanchar na década de 1970, quando trocou os boleros e um romantismo acentuado pela cadência bonita do samba, uma mudança idealizada pelo radialista e produtor musical Adelzon Alves. Depois do sucesso do LP ‘Alvorecer’, de 1974, impulsionado pelas faixas ‘Menino deus’ (Mauro Duarte/ Paulo César Pinheiro), ‘Alvorecer’ (Délcio Carvalho/ Ivone Lara) e ‘Conto de areia’ (Romildo/ Toninho Nascimento), a cantora mineira reafirmou sua consagração popular com o álbum ‘Claridade’. Lançado em 1975, este disco vendeu 600 mil cópias, um feito excepcional para um disco de samba, para uma cantora e, sobretudo, para um disco de samba de uma cantora. Traço marcante na trajetória artística e na vida de Clara Nunes, o sincretismo religioso está presente nas faixas ‘O mar serenou’ (Candeia) e ‘A deusa dos orixás’, do pernambucano Romildo e do paraense Toninho Nascimento, os mesmos autores de ‘Conto de areia’. Eles frequentavam o célebre programa no qual Adelzon...

Galeria do Amor 50 anos – Timóteo fora do armário (ou quase)

            Agnaldo Timóteo lançou o disco ‘Galeria do amor’ em 1975. Em pleno regime militar, o ídolo popular, conhecido por sua voz grandiloquente e seu temperamento explosivo, ousou ao compor e cantar a balada sobre “um lugar de emoções diferentes/ Onde a gente que é gente/ Se entende/ Onde pode se amar livremente”. A canção, que se tornaria um sucesso nacional, foi inspirada na famosa Galeria Alaska, antigo ponto de encontro dos homossexuais na Zona Sul carioca – o que passaria despercebido por boa parte de seu público conservador. O mineiro de Caratinga já havia suscitado a temática gay no disco ‘Obrigado, querida’, de 1967. A romântica ‘Meu grito’, feita por Roberto Carlos para a sua futura mulher, Nice, ganhou outras conotações na voz poderosa de Timóteo. “Ai que vontade de gritar seu nome, bem alto no infinito (...), só falo bem baixinho e não conto pra ninguém/ pra ninguém saber seu nome, eu grito só ‘meu bem'”, canta Agnaldo, que nunca assu...