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'Como a música ficou grátis' desvenda o início da pirataria digital

Lançado no primeiro semestre deste ano, o livro ‘Como a música ficou grátis – O fim de uma indústria, a virada do século e o paciente zero da pirataria’ (Editora Intrínseca), do jornalista norte-americano Stephen Witt, compila histórias e personagens fundamentais na revolução causada pela internet na indústria fonográfica e nos modos de consumo de música no mundo. Em relato contundente, Witt faz conexões entre engenheiros de áudio alemães, responsáveis pela criação do MP3, funcionários de gravadoras de diferentes setores – de alto-executivos a operários, igualmente inconsequentes em suas ambições. Uma das histórias mais impressionantes é de Dell Glover, o tal “paciente zero da pirataria” do subtítulo, empregado da fábrica da gravadora PolyGram (atual Universal Music), em Kings Mountain, na Carolina do Norte. Empacotador de CDs, Glover teve em suas mãos os principais lançamentos musicais daquela empresa e foi o responsável pelo vazamento de dois mil títulos na internet, ao longo de uma década. Mas ele não estava sozinho, nerds com tempo ocioso, jornalistas, radialistas, DJs e outros profissionais ligados à música contribuíram para a avalanche de arquivos MP3 que inundou a rede e os computadores em todo o mundo. Preocupada com os gravadores de CDs pessoais, a indústria fonográfica ignorou o MP3 e continuou vendendo caro o CD, não mudando sua margem de lucro nem mesmo durante a drástica queda nas vendas. Contando de forma envolvente alguns acontecimentos importantes, como o surgimento da famosa rede de compartilhamento de arquivos MP3, Napster, e do iPod – além das consequentes reviravoltas na indústria e no meio musical – Stephen não impõe julgamentos em seu texto, que fica ainda mais interessante quando toma ares de thriller de ação, após a narrativa da criação do MP3 propriamente dita. Em tempos de comercialização por streaming, ‘Como a música ficou grátis’ é leitura obrigatória tanto para aqueles que vivenciaram o início dessa contínua transformação, quanto para quem nunca comprou um Compact Disc.   

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