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Sem ais nem uis, o belo 'Paralelos & Infinitos' celebra o amor pleno e feliz

“Músculo absurdo, que compreende o gozo e a atração”, o coração pulsa amorosamente em ‘Paralelos & Infinitos’, segundo álbum de César Lacerda, lançado pela gravadora Joia Moderna. O cantor, compositor e multi-instrumentista mineiro, que toca a maioria dos instrumentos nas oito faixas do disco, aposta na plenitude do relacionamento amoroso – no caso, o seu namoro com a atriz Victoria Vasconcelos. A musa de Lacerda estampa a capa de ‘Paralelos & Infinitos’ e participa da faixa ‘Guarajuba’ (César Lacerda). Iluminados e felizes (mas não esfuziantes), seus versos são embalados por melodias de acento pop e harmonias quase etéreas, que revestem ‘Paralelos & Infinitos’ de jovial elegância. Nada dos corriqueiros ciúmes, queixas e ais que assolam a maioria das ditas canções de amor. O clima de romance contagia o ouvinte logo em ‘Algo a dois’ (César Lacerda), música acertadamente escolhida para divulgar ‘Paralelos & Infinitos’, e se intensifica na bela ‘Touro indomável’ (César Lacerda/ Francisco Vervloet), balada em que Lacerda arrisca sua voz pequena em convincentes falsetes. “Tudo dói”, constatou Caetano Veloso na canção lançada por Gal Costa em ‘Recanto’ (2011), mas César relativiza o incômodo imposto pelo tempo na existencial ‘21’ (César Lacerda): “Tudo dói, no entanto tudo vibra”, afirma o jovem. A guitarra de Lucas Vasconcellos acentua o tom cosmopolita de ‘Olhos’ (César Lacerda/ Luiz Rocha), outra balada que merece destaque. Em alguns momentos, principalmente a partir da metade, a faixa título remete às composições da também mineira Vanessa da Mata. Efeitos sonoros contribuem para o som celeste de ‘Love is’ (César Lacerda), ode ao amor escrita em inglês. Uma trama de vozes constitui o arranjo de ‘Quiseste expor teu corpo ao nu’ (César Lacerda), canção que encerra ‘Paralelos & Infinitos’, registro de um amor contemporâneo, pleno e sem medo de ser feliz.

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