Segundo disco solo de José Paes Lira, o Lirinha do extinto Cordel do
Fogo Encantado, ‘O labirinto e o desmantelo’ mistura poesia armorial, literatura
de cordel, guitarras, sintetizadores, órgãos e cravos para criar cenários psicodélicos
e sons impressionistas. O romantismo de sotaque regional do artista
pernambucano encontra a universalidade (quase) pop na produção musical do
baterista Pupillo, coautor de seis das onze faixas do álbum, que chega à edição
física via Eletrônica Viva. Distante (mas nem tanto) das viscerais
interpretações dos tempos do Cordel, Lira segue pautando sua música na palavra
quase declamada. Certa ambiência kitsch transpassa algumas faixas de ‘O
labirinto e o desmantelo’, caso de ‘Filtre-me’ (Céu/ Lira/ Pupillo), que tem a participação
especial da cantora e compositora paulista Céu. Bolero tecnopop, ‘Filtre-me’
parece ter saído de uma antiga jukebox
de um poeirento bar de beira de estrada – sonoridade que parece ser perseguida
por muitos artistas novatos: o brega é o novo cool. Com suas guitarras rascantes a bela faixa de abertura, ‘Desamar’
(Lira/ Guri Assis Brasil), se destaca. O uso de instrumentos musicais comumente
ligados à música erudita abrilhanta faixas como ‘Por fora da terra’ (Lira/
Pupillo), com participação do pianista Vitor Araújo (órgão e cravo), e ‘O
mergulho’, com seu trio de sopro formado por Luiz Serralheiro (tuba), Fernando
Chipoletti (trombone) e Douglas Costa (trompa). Contudo, a melhor canção de ‘O
labirinto e o desmantelo’ é a lisérgica balada romântica ‘Jabitacá’ (Lira/ Juno
Barreto/ Bactéria) – ainda que a interpretação de Lira não roce, por motivos
óbvios, a beleza do registro feito por Gal Costa em seu recente disco,
‘Estratosférica’. Enfim, a poesia distintiva de Lira é a senha para
percorrer este interessante labirinto musical.
“Quando eu não puder pisar mais na Avenida/ Quando as minhas pernas não puderem aguentar/ Levar meu corpo junto com meu samba/ O meu anel de bamba/ Entrego a quem mereça usar”. Ao lançar seu primeiro disco, ‘A voz do samba’, em 1975, Alcione viu os versos melancólicos de ‘Não deixe o samba morrer’ (Edson Conceição/ Aloísio Silva) ganharem o país, tornando-se o primeiro sucesso da jovem cantora. Radicada no Rio de Janeiro desde 1967, a maranhense cantava em casas noturnas que marcaram época nas noites cariocas. Nestas apresentações, seu abrangente repertório incluía diferentes gêneros da música brasileira, além de canções francesas, italianas e norte-americanas também presentes no rádio. Enquanto isso, o samba conquistava novos espaços na década de 1970. Em 1974, Clara Nunes viu sua carreira firmar-se nacionalmente com o disco ‘Alvorecer’, do sucesso de ‘Conto de areia’ (Romildo Bastos/ Toninho Nascimento). No mesmo ano, Beth Carvalho obteve seu primeiro êxito como sambista com ...
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