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Jonas Sá mostra o som de sua tribo em 'BLAM! BLAM!'


Não é apenas pela provocante estética sexy impressa na capa e no encarte em forma de pôster que ‘BLAM! BLAM!’, o segundo disco de Jonas Sá, lembra antigos long-plays da década de 1970. Nas 14 faixas do álbum lançado pela gravadora Coqueiro Verde Records, a música negra norte-americana que dominava as paradas daqueles já longínquos anos norteia a interessante produção capitaneada pelo próprio artista e por seu irmão, o guitarrista Pedro Sá. Letras cinematográficas, impregnadas de romance, sexo e crueza descarada compõem um cenário urbano contemporâneo, cuja trilha sonora também engloba soul, rock, pop, funk e bossa nova, entra outras referências musicais. Grooves e interferências eletrônicas contribuem para a sonoridade moderna e inquietante, em faixas como ‘8 bit’ (Jonas Sá), ‘Não vai rolar’ (Jonas Sá/ Domenico Lancellotti), ‘Gigolô’ (Jonas Sá) e ‘Sexy savannah’ (Jonas Sá/ Ricardo Dias Gomes). Alternando sons raivosos (‘Chat Roulette’) e momentos mais tranquilos (‘Safo’), ‘BLAM! BLAM!’ segue vertiginosamente, como uma partida de fliperama, outro ícone setentista. Com seus formatos mais pop, ‘Perdidos na noite’ (Jonas Sá), ‘Fundo de olhar’ (Jonas Sá/ Alberto Continentino) e ‘Tua cor’ (Jonas Sá) aparecem como possíveis singles radiofônicos. A excelente qualidade técnica do álbum gravado no estúdio Rock It! chama a atenção.  Cantor de poucos recursos vocais, Jonas toca vários instrumentos e é acompanhado por Pedro Sá (violão/ guitarra), Domenico Lancellotti (MPC), Ricardo Dias Gomes (baixo), Alberto Continentino (baixo acústico), Donatinho (sintetizadores) e Marcello Calado (bateria), entre outros músicos recorrentes nas fichas técnicas de muitos CDs lançados atualmente. No apoio vocal estão Moreno Veloso, Nina Becker, Thalma de Freitas e Rubinho Jacobina, que também integram a presente cena musical carioca. No (cada vez mais) segmentado mercado fonográfico brasileiro, Jonas Sá faz música com e para sua própria tribo, e isso não é demérito, afinal, os tempos dos abrangentes sucessos nacionais parecem ser coisa do passado. Bem realizado, ‘BLAM! BLAM!’ pode fazer barulho em outras praias. 

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