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Dorina canta 'Sambas de Luiz' Carlos da Vila em ótimo CD



Enquanto as poucas gravadoras remanescentes ainda sonham – em vão – em encontrar a nova Clara Nunes, a cantora Dorina há 17 anos dá voz ao samba feito nos terreiros e fundos de quintais dos subúrbios cariocas. Desde a sua boa estreia no mercado fonográfico em 1996, quando lançou ‘Eu canto samba’, a portelense vem colocando sua voz (cada vez mais) bem colocada a serviço de repertórios sabiamente escolhidos. Como se dá em ‘Sambas de Luiz’, álbum que traz 14 faixas compostas pelo saudoso sambista Luiz Carlos da Vila, com bonito projeto gráfico assinado por Felício Torres.
Gravado ao vivo no Centro Municipal de Referência da Música Carioca, no bairro da Muda, Rio de Janeiro, ‘Sambas de Luiz’ ressalta a obra da melhor qualidade assinada pelo autor de sucessos como ‘Doce refúgio’, ‘Nas veias do Brasil’ e ‘Por um dia de graça’ – gravado por uma esfuziante Simone em 1984 o samba de enredo ganha registro menos acelerado no álbum produzido por Claudio Jorge e por Alessandro Cardozo. O canto dolente de Dorina traz à luz da contemporaneidade o delicado ‘Graça do mundo’, gravado em 1978 pelo conjunto Nosso Samba, em meio a outras belezas como ‘Morro molhado’ e ‘A cigarra e o samba’. Entre as sincopadas ‘Flor da esperança’, ‘Das origens’ e ‘Meu canto’ e a bem humorada ‘Você não é boa atriz’, Dorina passeia com leveza e desenvoltura, coisa de quem realmente vivencia as melhores rodas e pagodes da cidade. Dorina já encontrou o tom há tempos.

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