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'Inversões', de Regina Souza, reitera vertente da MPB


Terceiro disco da cantora mineira Regina Souza, ‘Inversões’ (Vida Urbana/ Biscoito Fino), apresenta clássicos da música norte-americana vertidos para o português. O repertório traz antigas versões feitas por Haroldo Barbosa (‘Beguin the beguine’, de Cole Porter), Aloysio de Oliveira (‘Sol da meia-noite’, para ‘Midnight sun’, de Johnny Mercer, Lionel Hampton e Sonny Burke), Jair Amorim (‘Amor é sempre amor’, para ‘As time goes by’, de Herman Hupfeld) e João de Barro (‘Oh, que dia tão feliz’, para ‘It’s a hap-hap happy day’, de J. Neiburg, Sammy Timberg e Winston Sharples). Todas de um tempo em que os versionistas não se preocupavam com a tradução literal, e conseguiam imprimir sua personalidade artística nas canções. Qualidade herdada por compositores de gerações posteriores como Augusto de Campos (‘Louca me chamam’, para ‘Crazy he calls me’, de Carl Sigman e Sidney Russel), Nelson Motta (‘Como um rio’, para ‘Cry me a river’, de Arthur Hamilton), Rita Lee (‘Blue moon’, de Richard Rodgers e Lorenz Hart) e Carlos Rennó (‘Que de-lindo’, para ‘It’s de-lovely, de Cole Porter) também incluídos no álbum. Três sucessos nacionais, ‘Samba e amor’ (Chico Buarque), ‘Chovendo na roseira’ (Tom Jobim) e ‘Não me diga adeus’ (Paquito, Luiz Soberano e João Correa da Silva) surgem, respectivamente traduzidos para o italiano, o francês e o espanhol. Os adequados arranjos do produtor Rodrigo Campello apostam numa suavidade condizente com o canto de Regina. Sem sobressaltos ou estranhamentos, ‘Inversões’ reitera a vertente que já rendeu belos momentos na música popular brasileira.

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