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Banda A Fase Rosa expõe MPB contemporânea com 'Leveza'

Surgida em Belo Horizonte, em 2009, a banda A Fase Rosa tem seu nome inspirado na chamada ‘fase rosa’ de Pablo Picasso (1881 – 1973). A mistura de gêneros musicais, como carimbó, forró, samba, bossa nova, maracatu e até marchinha carnavalesca, resulta numa aquarela de cores fortes, que parece refletir o momento criativo do pintor espanhol. Formada por Thales Silva (guitarra/ violão/ cavaco/ voz), Rafael José (guitarra/ viola caipira/ voz), Rodrigo Magalhães (baixo/ voz) e Fernando Monteiro (bateria/ percussão/ voz), A Fase Rosa por ora disponibiliza em seu site (clique aqui) o segundo álbum da banda, ‘Leveza’. São doze faixas que transbordam experimentalismo na sonoridade realçada por guitarras espertas e universais. A crítica social esta presente em músicas como ‘Guanabara’ (Thales Silva), retrato do antigo distrito federal, onde “a ética derrete ao calor do verão”, nos versos contidos na faixa de forte acento tropicalista. Aliás, é notória a influência da obra de Caetano Veloso, um dos líderes do movimento musical, na produção d’A Fase Rosa. Não por acaso, João Gilberto ganha homenagem na faixa-título, que brinca com trechos de canções incluídas no disco lançado por ele em 1973. Outro destaque é ‘Paraíba’ (Rafael José/ Thales Silva), um baião moderno que inverte a ordem do salão: “No forró só os dois a bailar/ Mão na bunda do macho coitado/ Quem controla esse xote que é meu... Paraíba, masculina/ Mulher forte, feminina”. Inversão também presente no reggae ‘Coisa Preta’, que evoca ícones da negritude, como Martinho da Vila, Miles Davis e Nina Simone, para dar novo sentido (positivo) à preconceituosa expressão “a coisa ficou preta”. Doses de crítica social, referências a outros campos artísticos, humor e inteligência – além da boa mistura sonora – resultam num interessante disco de música brasileira contemporânea nascida nas Minas Gerais. 

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