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A música sem fronteiras do pianista Pablo Lapidusas


Cosmopolita, o argentino Pablo Lapidusas gravou as faixas de seu segundo disco solo entre as cidades de Lisboa, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Maputo, Los Angeles e Londres. Contudo, tais deslocamentos geográficos não interferem na unidade sonora de ‘Estrangeiro’, álbum de som contemporâneo e sofisticado, por ora lançado pelo selo Kalamata Música.
Sem negar a influência do jazz, o músico criou belas aberturas para determinadas faixas, que produzem verdadeiro encantamento, caso de ‘Intro’, que precede o tema romântico de ‘Cinema Paradiso’ (Ennio Morricone, 1988) e de ‘Tema para Farida’, que anuncia a bela inédita ‘Baila ballet’ (João Carlos Schwalbach), que encerra o disco.
Entre a jazzística ‘Caravan’ (Duke Ellington/ Juan Tizol, 1937) e a pop(ular) ‘Blackbird’ (John Lennon/ Paul McCartney, 1968), Pablo impõe seu elegante dedilhado a clássicos da música popular brasileira. A inquietude original de ‘Sítio do pica-pau amarelo’ (Gilberto Gil, 1977) ganha novas cores. A beleza rítmica de ‘Upa, neguinho’ (Edu Lobo, 1968) é realçada no registro cheio de groove e improvisos. 
O repertório traz ainda duas composições de Chico Buarque: a dramática ‘Gota d’água’ (1975) e ‘O futebol’ (1989), tema menos conhecido do compositor. O pianista também apresenta uma bela versão de ‘Chovendo na roseira’ (1970), do maestro Antônio Carlos Jobim. O álbum ‘Estrangeiro’ é belo exercício de técnica e inspiração de Pablo Lapidusas, um músico sem fronteiras.

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