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Vanessa da Mata leva a música de Tom Jobim para o seu canto


Adequadamente levado para o estúdio, onde a tecnologia maquia imperfeições, o projeto ‘Vanessa da Mata canta Tom Jobim’ (Jabuticaba/ Sony Music) apresenta dezesseis clássicos de Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (1927 – 1994). Embora não seja a intérprete ideal de músicas como ‘Por causa de você’ (Tom Jobim/ Dolores Duran, 1957), ‘Sabiá’ (Tom Jobim/ Chico Buarque, 1968) e ‘Dindi’ (Tom Jobim/ Aloysio de Oliveira, 1959), Vanessa encara com decência a difícil tarefa de reler canções eternizadas por grandes vozes. A partir dos arranjos assinados pelo maestro e pianista Eumir Deodato, o requisitado produtor Kassin soube criar uma ambiência contemporânea, próxima à sonoridade característica da discografia da cantora e compositora mato-grossense.
Diferentemente da edição anterior do projeto concebido pela Nívea, não se tentou reviver o passado glorioso do homenageado através da extrema reverência. Tudo foi pensando de modo a deixar Vanessa da Mata minimamente confortável. A maioria das faixas tem curta duração, com a não repetição dos versos, ‘Fotografia’ (Tom Jobim, 1959), escolhida para divulgar o disco, tem apenas 2 minutos e 29 segundos.  Todo esse cuidado resulta em um álbum agradável, principalmente quando Vanessa deixa de lado os tons agudos impressos na abolerada ‘Eu sei que vou te amar’ (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes, 1959) e na já citada ‘Dindi’. Ela se sai melhor no balanço de ‘Só danço samba’ (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes, 1962) e ‘Samba de uma nota só’ (Tom Jobim/ Newton Mendonça, 1959).
Entre a bossa de ‘Este seu olhar’ (Tom Jobim, 1959), ‘Wave’ (Tom Jobim, 1967) e ‘Só tinha que ser com você’ (Tom Jobim/ Aloysio de Oliveira, 1964) há espaço para a versão integral de ‘Desafinado’, cuja estrofe inicial geralmente é suprimida. “Quando eu vou cantar você não deixa/ E sempre vem a mesma queixa/ Diz que eu desafino que eu não sei cantar”, dizem os versos que ganham certa dose de ironia ouvidos na voz de Vanessa. Discutido desde o anúncio do nome da cantora, o projeto ganhou leveza graças também ao aparente senso de humor de Vanessa da Mata. 


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