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Lulu Santos canta e toca Roberto Carlos e Erasmo Carlos com maestria


Astro do pop-rock tupiniquim, Lulu Santos esbanja talento e criatividade em ‘Lulu canta & toca Roberto e Erasmo’, álbum dedicado ao repertório dos icônicos artistas vinculados à Jovem Guarda. Por mais que as treze canções escolhidas possam soar batidas à primeira vista, os inventivos arranjos assinados por Lulu rejuvenescem quase todas elas, sendo ‘É preciso saber viver’ (Erasmo Carlos/ Roberto Carlos) o momento mais fraco do disco lançando pela gravadora Sony Music. Recriada com sucesso pelos Titãs em sua fase mais comercial, no CD ‘Volume dois’ (Warner Music, 1998), a música lançada pelo Rei em 1974 soa deslocada ao apresentar o arranjo menos inspirado de ‘Lulu canta & toca Roberto e Erasmo’.
Revestida por sopros e teclados, ‘As curvas da estrada de Santos’ (Erasmo Carlos/ Roberto Carlos, 1969) abre o 24º álbum de Lulu Santos de forma admirável. Imortalizada por Roberto, a belíssima canção também registrada com excelência por Elis Regina em 1970, ressurge atraente na calorosa interpretação de Lulu. O tom grandioso continua em ‘Minha fama de mau’ (Erasmo Carlos/ Roberto Carlos, 1965), com direito a solos de guitarra (Lulu) e piano (Hiroshi Mizutani).
Em ‘Se você pensa’ (Erasmo Carlos/ Roberto Carlos, 1968) Lulu reedita o estilo quase declamado de interpretar, já utilizado na gravação da mesma música no CD ‘Eu e Memê, Memê e eu’, em 1995. O rock and roll embala ‘Sou uma criança, não entendo nada’ (Erasmo Carlos/ Ghiaroni, 1974), enquanto a delicada versão de ‘Como é grande o meu amor por você’ (Roberto Carlos, 1967) lembra a versão de ‘Esotérico’ feita por seu autor, Gilberto Gil, no disco ‘Um banda um’ (1982). Longa para os padrões radiofônicos, com seus quase cinco minutos, ‘Como é grande o meu amor por você’ chegou às rádios indevidamente editada.
A delicadeza impressa na interpretação e no arranjo valoriza até mesmo um sucesso como ‘Sentado à beira do caminho’ (Erasmo Carlos/ Roberto Carlos, 1969), confirmando o ótimo momento do cantor Lulu Santos.  Por isso soa dispensável a participação de Marquinhos oSócio em ‘Não vou ficar’ (Tim Maia, 1969). Assim como os falsetes do baixista Jorge Ailton por pouco não comprometem ‘Você não serve pra mim’ (Renato Barros, 1967). Fã da Jovem Guarda, Lulu presta afetuosa homenagem aos demais integrantes do famoso programa musical dos anos 1960 em ‘Festa de arromba’ (Erasmo Carlos/ Roberto Carlos, 1965).
Um dos melhores momentos de ‘Lulu canta & toca Roberto e Erasmo’, ‘Quando’ (Roberto Carlos, 1967) se equilibra entre o rock e o blues no inventivo arranjo, enquanto ‘Eu te darei o céu’ (Erasmo Carlos/ Roberto Carlos, 1967) balança ao som do reggae. Longe da dramaticidade de Roberto ou de Maria Bethânia, que em 1993 lançou o campeão de vendas ‘As canções que você fez pra mim’, o fox ‘Emoções’ (Erasmo Carlos/ Roberto Carlos, 1981) reaparece suave na voz de Lulu. Aos trinta anos de carreira, criador de vários sucessos, o carioca Luís Maurício Pragana dos Santos soube imprimir sua personalidade na bela homenagem aos igualmente grandes Roberto e Erasmo. 

Comentários

Vi disse…
Que bom que mesmo após tantos anos de carreira, meu ídolo Lulu ainda consegue se reinventar! Adorei!

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