Pular para o conteúdo principal

"Todo mundo quer amar" ressalta a qualidade excepcional de Becker, Pinheiro e Sacramento


Zé Paulo Becker registrou suas primeiras parcerias com Paulo César Pinheiro no disco ‘Pra tudo ficar bem’ (Biscoito Fino, 2009). Três anos depois, o recém-lançado ‘Todo mundo quer amar’ (gravadora Borandá) traz quatorze músicas inéditas assinadas pelo violonista e pelo letrista, na voz de Marcos Sacramento. Músico clássico por formação, Zé Paulo viu seu nome ser reconhecido além das rodas de samba e choro da Lapa ao colocar o virtuoso violão a serviço dos dois bem-sucedidos ritmos musicais do país, sem ortodoxia. Sua inventividade rítmica gerou sambas (‘A gente samba’, ‘Dois lados’ e ‘Temperamento’), choro (‘Gota de ouro’), valsa (‘Sem rumo’) e seresta (‘Quem ama’), entre outras canções, que ganharam a poesia de Paulo César Pinheiro, letrista criador de inúmeros clássicos da MPB. Craque, Becker também assina os arranjos das quatorze faixas de ‘Todo mundo quer amar’, onde seu violão sincopado tem as luxuosas adesões de músicos como Rogério Caetano (violão sete cordas), Leandro Braga (piano), Bebê Kramer (acordeom), Márcio Almeida (cavaquinho), Luciana Rabello (cavaquinho) e Pedro Aune (baixo).
Cantor de recursos (ainda) insuspeitos para alguns, Marcos Sacramento coloca sua exímia divisão rítmica a serviço das canções, realçando o tempero urbano e contemporâneo das mesmas. ‘Todo mundo quer amar’ ressalta a qualidade de três artistas excepcionais. Três gerações de músicos que mantêm a tradição da nossa melhor produção musical bem longe da idiossincrasia que assalta certos nichos da música popular brasileira. Todo mundo deveria amar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A voz do samba - O primeiro disco de Alcione

  “Quando eu não puder pisar mais na Avenida/ Quando as minhas pernas não puderem aguentar/ Levar meu corpo junto com meu samba/ O meu anel de bamba/ Entrego a quem mereça usar”. Ao lançar seu primeiro disco, ‘A voz do samba’, em 1975, Alcione viu os versos melancólicos de ‘Não deixe o samba morrer’ (Edson Conceição/ Aloísio Silva) ganharem o país, tornando-se o primeiro sucesso da jovem cantora. Radicada no Rio de Janeiro desde 1967, a maranhense cantava em casas noturnas que marcaram época nas noites cariocas. Nestas apresentações, seu abrangente repertório incluía diferentes gêneros da música brasileira, além de canções francesas, italianas e norte-americanas também presentes no rádio. Enquanto isso, o samba conquistava novos espaços na década de 1970. Em 1974, Clara Nunes viu sua carreira firmar-se nacionalmente com o disco ‘Alvorecer’, do sucesso de ‘Conto de areia’ (Romildo Bastos/ Toninho Nascimento). No mesmo ano, Beth Carvalho obteve seu primeiro êxito como sambista com ‘1...

Galeria do Amor 50 anos – Timóteo fora do armário (ou quase)

  Agnaldo Timóteo lançou o disco ‘Galeria do amor’ em 1975. Em pleno regime militar, o ídolo popular, conhecido por sua voz grandiloquente e seu temperamento explosivo, ousou ao compor e cantar a balada sobre “um lugar de emoções diferentes/ Onde a gente que é gente/ Se entende/ Onde pode se amar livremente”. A canção, que se tornaria um sucesso nacional, foi inspirada na famosa Galeria Alaska, antigo ponto de encontro dos homossexuais na Zona Sul carioca – o que passaria despercebido por boa parte de seu público conservador. O mineiro de Caratinga já havia suscitado a temática gay no disco ‘Obrigado, querida’, de 1967. A romântica ‘Meu grito’, feita por Roberto Carlos para a sua futura mulher, Nice, ganhou outras conotações na voz poderosa de Timóteo. “Ai que vontade de gritar seu nome, bem alto no infinito (...), só falo bem baixinho e não conto pra ninguém/ pra ninguém saber seu nome, eu grito só ‘meu bem'”, canta Agnaldo, que nunca assumiria sua suposta homossexualidade. ...

'Se dependesse de mim', um disco com a inconfundível marca de Wilson Simonal

               Lançado em 1972, ‘Se dependesse de mim’ marcou a estreia de Wilson Simonal na gravadora Philips. Ídolo inconteste nos anos 1960, Simonal buscava renovação. Para isso, os produtores Nelson Motta e Roberto Menescal optaram por um repertório essencialmente contemporâneo.             A faixa-título (Ivan Lins/Ronaldo Monteiro de Souza) traz versos simbólicos para o momento vivido por Simonal, como “Quero brisas e nunca vendavais”. O samba ‘Noves fora’ (Belchior/Fagner), gravado por Elis Regina, mas deixado de fora de seu LP de 1972, ganhou versão cheia de suingue de Simonal. ‘Expresso 2222’ (Gilberto Gil) circulava na voz de seu compositor e teve seu segundo registro, cujo arranjo passeia por diferentes ritmos. A melodiosa ‘Irmãos de sol’ (Marcos/Paulo Sérgio Valle) intui futuros dias mais bonitos. Em ‘Maria’ (Francis Hime/Vinicius de Moraes), Simonal revive a canção que defendeu ...