Pular para o conteúdo principal

Roupa Nova: há três décadas um campeão de popularidade


Premiado na categoria “Canção popular” pelo DVD comemorativo de 30 anos de carreira, o grupo Roupa Nova não compareceu à cerimônia de entrega do 22º Prêmio da Música Brasileira, ocorrida na noite de 6 de julho de 2011, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Segundo José Maurício Machline, idealizador da premiação, os músicos não concordaram com a inclusão do DVD naquela categoria.
Gravado em junho do ano passado na casa de espetáculos Credicard Hall, em São Paulo, ‘Roupa Nova 30 anos’ rebobina os hits radiofônicos colecionados nas três últimas décadas. Tantos que foi preciso recorrer aos manjados medleys para não deixar nenhum de fora. Estão lá as pós-hippies ‘Sapato velho’ (Mu Carvalho/ Cláudio Nucci/ Paulinho Tapajós) e ‘Canção de verão’ (Thomas Roth/ Luiz Guedes), as românticas ‘Linda demais’ (Tavinho Paes/ Kiko) e ‘A força do amor’ (Cleberson Horsth/ Ronaldo Bastos), e até mesmo os temas do Rock in Rio e do programa Vídeo Show.
Milton Nascimento (‘Nos bailes da vida’) e Sandy (‘Chuva de prata’) fazem pálidas participações que não chegam a empolgar nem mesmo o público fiel do grupo que lotou a casa de shows paulista. Celebridades contemporâneas, o padre Fabio de Melo (‘Paz’, versão de ‘Heal the world’, do repertório de Michael Jackson) e o grupo Fresno (‘Show de rock and roll’) se saem melhor.
Ricardo Feghali (teclados, violão e vocais), Nando (baixo e vocais), Paulinho (percussão e vocais), Cleberson Horsth (teclados e vocais), Kiko (guitarra, violão e vocais) e Serginho Herval (bateria e vocais) mantêm as boas harmonizações vocais que levaram o Roupa Nova a gravar com artistas como Gal Costa, Simone e Milton Nascimento.
O romantismo padronizado a partir do ingresso do grupo na antiga gravadora RCA, em 1984, continua presente. Entretanto, os arranjos atuais descaracterizam algumas canções, principalmente aquelas agrupadas nos medleys. O maior deles reúne ‘Seguindo no trem azul’ (Cleberson Horsth/ Ronaldo Bastos), ‘Anjo’ (Renato Corrêa/ Cláudio Rabello/ Dalto), ‘Princesa’ (Flávio Venturini/ Ronaldo Bastos), ‘Amar é...’(Cleberson Horsth/ Ricardo Feghali), ‘Amo em silêncio’ (B. Gaudio/ B. Crewe), ‘Começo, meio e fim’ (Paulo Sérgio Valle/ Ney Azambuja/ Tavito). O clássico ‘Clarear’ (Octávio Burnier/ Mariozinho Rocha), aparece diluído por um rap desnecessário.
Assíduo frequentador das trilhas sonoras de telenovelas entre 1980 e 1990, o Roupa Nova relembra ‘A viagem’ (Cleberson Horsth/ Aldir Blanc), ‘Dona’ (Sá/ Guarabyra), ‘Coração pirata’ (Nando/ Aldir Blanc) e a indefectível ‘Whisky a go-go’ (Michael Sullivan/ Paulo Massadas).
Assim, enfileirando sucessos, o sexteto repete a fórmula já utilizada no CD ‘Roupa Nova ao vivo’ (1991) e no CD/DVD ‘Roupacústico’ (2004). Curiosamente, o registro acústico foi eleito o melhor disco no Prêmio Tim de Música, em 2005, na categoria “Canção popular” – a mesma renegada pelo Roupa Nova atualmente. Em 2009, eles conquistaram o Grammy latino na categoria de “Melhor Álbum Pop Contemporâneo Brasileiro”. Indiferente às nomenclaturas das premiações, um público fiel e numeroso continua esgotando as apresentações do grupo, mantendo o Roupa Nova como um campeão de popularidade. O que não é pouco em tempos de mudanças e incertezas da indústria fonográfica.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Joias musicais de Gilberto Gil são reeditadas

               A Universal Music reabre seu baú de preciosidades. Desta vez, a dona do maior acervo musical do país, traz duas joias do cantor, compositor e violonista Gilberto Passos Gil Moreira, recentemente eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras. De 1971, o disco londrino, ‘Gilberto Gil’, reaparece em nova edição em vinil, enquanto ‘Refestança’, registro do histórico encontro de Gil e Rita Lee, de 1977, finalmente ganha versão digital.             Gravado durante o exílio do artista baiano em Londres, o quarto LP de estúdio de Gilberto Gil foi produzido por Ralph Mace para o selo Famous e editado no Brasil pela Philips, atual Universal Music. O produtor inglês também trabalhava com Caetano Veloso, que havia lançado seu primeiro disco de exílio no mesmo ano. Contrastando com a melancolia expressada por Caetano, Gil fez um álbum mais equilibrado, dosando as saudades do Brasil...

50 anos de Claridade

Clara Nunes (1942 – 1983) viu sua carreira deslanchar na década de 1970, quando trocou os boleros e um romantismo acentuado pela cadência bonita do samba, uma mudança idealizada pelo radialista e produtor musical Adelzon Alves. Depois do sucesso do LP ‘Alvorecer’, de 1974, impulsionado pelas faixas ‘Menino deus’ (Mauro Duarte/ Paulo César Pinheiro), ‘Alvorecer’ (Délcio Carvalho/ Ivone Lara) e ‘Conto de areia’ (Romildo/ Toninho Nascimento), a cantora mineira reafirmou sua consagração popular com o álbum ‘Claridade’. Lançado em 1975, este disco vendeu 600 mil cópias, um feito excepcional para um disco de samba, para uma cantora e, sobretudo, para um disco de samba de uma cantora. Traço marcante na trajetória artística e na vida de Clara Nunes, o sincretismo religioso está presente nas faixas ‘O mar serenou’ (Candeia) e ‘A deusa dos orixás’, do pernambucano Romildo e do paraense Toninho Nascimento, os mesmos autores de ‘Conto de areia’. Eles frequentavam o célebre programa no qual Adelzon...

Galeria do Amor 50 anos – Timóteo fora do armário (ou quase)

            Agnaldo Timóteo lançou o disco ‘Galeria do amor’ em 1975. Em pleno regime militar, o ídolo popular, conhecido por sua voz grandiloquente e seu temperamento explosivo, ousou ao compor e cantar a balada sobre “um lugar de emoções diferentes/ Onde a gente que é gente/ Se entende/ Onde pode se amar livremente”. A canção, que se tornaria um sucesso nacional, foi inspirada na famosa Galeria Alaska, antigo ponto de encontro dos homossexuais na Zona Sul carioca – o que passaria despercebido por boa parte de seu público conservador. O mineiro de Caratinga já havia suscitado a temática gay no disco ‘Obrigado, querida’, de 1967. A romântica ‘Meu grito’, feita por Roberto Carlos para a sua futura mulher, Nice, ganhou outras conotações na voz poderosa de Timóteo. “Ai que vontade de gritar seu nome, bem alto no infinito (...), só falo bem baixinho e não conto pra ninguém/ pra ninguém saber seu nome, eu grito só ‘meu bem'”, canta Agnaldo, que nunca assu...