Pular para o conteúdo principal

O novo show da Cigarra agrada fãs antigos


Simone (foto de Izabella Jacobina) estreou seu novo show, 'Em boa companhia', na noite de 18 de setembro, no Canecão (RJ). Às vésperas de completar 60 anos, a cantora está à vontade, mostrando que deixou de lado certa dramaticidade que chegou a pontuar antigas apresentações. Simone brincou com a nova idade ("vou fazer sessentinha, quem vai cuidar de mim?") ao citar o patrocinador do show. Tamanha descontração faz imperceptível a direção de José Possi Neto. Acompanhada de uma excelente banda, Simone desfia um coerente repertório, baseado no recém-lançado CD 'Na Veia', relembra antigos sucessos como 'Face a face' (Sueli Costa e Cacaso), 'Elegia' (Péricles Cavalcanti e Augusto de Campos) e 'Tô que tô' (Kleiton e Kledir) - que abre o espetáculo - e surpreende o público com 'Perigosa' (Rita Lee, Roberto de Carvalho e Nelson Motta) e a singela versão do frevo 'Chuva, suor e cerveja' (Caetano Veloso) que poderia realmente encerrar o espetáculo, não fosse o já institucionalizado bis.
Acostumada a trafegar entre a MPB e a canção mais popular - o que já chegou a afastar admiradores mais radicais - Simone se sai bem recriando a romântica 'Certas coisas' (Lulu Santos e Nelson Motta) e o samba 'Deixa eu te amar' (Agepê). Alternando momentos mais suaves ('Certas noites', 'Hóstia' e 'Migalhas') com outros calcados na latinidade ('Geraldinos e Arquibaldos' e 'Ai, ai, ai, ai'), o show carece de emoção que só chega na interpretação de 'Diga lá, coração' (Gonzaguinha). A cantora erra ao encarar 'Lá vem a baiana', clássico do cancioneiro de Dorival Caymmi, já cantado por outras baianas de maior malemolência. O bis, com 'Ex-amor' e 'Canta, canta minha gente', ambas de Martinho da Vila, também destoa do show, calcado em pretensas sofisticação e sensualidade. Assim como outras colegas de sua geração, Simone precisa renovar seu público e, se o novo CD aponta para isto, com seu pop elegante e canções de Adriana Calcanhotto, Dé Palmeira e Marina Lima; o show faz exatamente o contrário, se aproximando de antigos (bons) espetáculos através do cenário e da (falta de) direção. 'Em boa companhia' agradará aos antigos fãs, mas não trará gente nova para a seara da cantora.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Joias musicais de Gilberto Gil são reeditadas

               A Universal Music reabre seu baú de preciosidades. Desta vez, a dona do maior acervo musical do país, traz duas joias do cantor, compositor e violonista Gilberto Passos Gil Moreira, recentemente eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras. De 1971, o disco londrino, ‘Gilberto Gil’, reaparece em nova edição em vinil, enquanto ‘Refestança’, registro do histórico encontro de Gil e Rita Lee, de 1977, finalmente ganha versão digital.             Gravado durante o exílio do artista baiano em Londres, o quarto LP de estúdio de Gilberto Gil foi produzido por Ralph Mace para o selo Famous e editado no Brasil pela Philips, atual Universal Music. O produtor inglês também trabalhava com Caetano Veloso, que havia lançado seu primeiro disco de exílio no mesmo ano. Contrastando com a melancolia expressada por Caetano, Gil fez um álbum mais equilibrado, dosando as saudades do Brasil...

50 anos de Claridade

Clara Nunes (1942 – 1983) viu sua carreira deslanchar na década de 1970, quando trocou os boleros e um romantismo acentuado pela cadência bonita do samba, uma mudança idealizada pelo radialista e produtor musical Adelzon Alves. Depois do sucesso do LP ‘Alvorecer’, de 1974, impulsionado pelas faixas ‘Menino deus’ (Mauro Duarte/ Paulo César Pinheiro), ‘Alvorecer’ (Délcio Carvalho/ Ivone Lara) e ‘Conto de areia’ (Romildo/ Toninho Nascimento), a cantora mineira reafirmou sua consagração popular com o álbum ‘Claridade’. Lançado em 1975, este disco vendeu 600 mil cópias, um feito excepcional para um disco de samba, para uma cantora e, sobretudo, para um disco de samba de uma cantora. Traço marcante na trajetória artística e na vida de Clara Nunes, o sincretismo religioso está presente nas faixas ‘O mar serenou’ (Candeia) e ‘A deusa dos orixás’, do pernambucano Romildo e do paraense Toninho Nascimento, os mesmos autores de ‘Conto de areia’. Eles frequentavam o célebre programa no qual Adelzon...

Galeria do Amor 50 anos – Timóteo fora do armário (ou quase)

            Agnaldo Timóteo lançou o disco ‘Galeria do amor’ em 1975. Em pleno regime militar, o ídolo popular, conhecido por sua voz grandiloquente e seu temperamento explosivo, ousou ao compor e cantar a balada sobre “um lugar de emoções diferentes/ Onde a gente que é gente/ Se entende/ Onde pode se amar livremente”. A canção, que se tornaria um sucesso nacional, foi inspirada na famosa Galeria Alaska, antigo ponto de encontro dos homossexuais na Zona Sul carioca – o que passaria despercebido por boa parte de seu público conservador. O mineiro de Caratinga já havia suscitado a temática gay no disco ‘Obrigado, querida’, de 1967. A romântica ‘Meu grito’, feita por Roberto Carlos para a sua futura mulher, Nice, ganhou outras conotações na voz poderosa de Timóteo. “Ai que vontade de gritar seu nome, bem alto no infinito (...), só falo bem baixinho e não conto pra ninguém/ pra ninguém saber seu nome, eu grito só ‘meu bem'”, canta Agnaldo, que nunca assu...