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Alcione: Ares renovados pelo samba


Dois anos após 'De tudo que eu gosto', Alcione está de volta com 'Acesa', seu 34º disco. O romantismo despudorado que pontua seu repertório há duas décadas está presente logo na primeira faixa, 'Eu não domino essa paixão', parceria menos inspirada de Neneo e Paulinho Resende - este, um dos autores de 'Menino sem juízo', gravada pela Marrom em 1979. Telma Tavares e Roque Ferreira se saem melhor na faixa-título, escolhida para puxar o CD nas rádios.
Felizmente o samba está mais presente neste novo trabalho. 'O sono dos justos' (Marcus Lima, Márcio Proença e Rodrigo Sestrem), a bela 'Eternas Madrugadas' (Fred Camacho e Cassiano Andrade) e 'Sinuca de bico' (Claudemir, Élcio do Pagode e Serginho Meriti) dão pistas de como seria um disco da cantora dedicado ao mais carioca dos ritmos.
'Nair Grande' (Telma Tavares e Paulo César Feital) - que homenageia lendária personagem da Estação Primeira de Mangueira e o partido 'A casa da mãe da gente' (Júnior Rodrigues e Gilson Nogueira) mantém o clima descontraído - leve como há muito tempo não se ouvia em um CD de Alcione. Mesmo a toada 'Imperador Tocantins' (Carlinhos Veloz), regional, soa bonita, e não destoa do restante do disco. A cantora reafirma sua veia de sambista na boa faixa 'O samba me chamou' (Marquinhos PQD e Sombrinha), que tem a participação do Grupo Revelação. O cantor Simoninha injeta suingue em 'Chutando o balde', do craque Nei Lopes, compositor sempre presente na discografia da maranhense. 'Acesa' mostra que, cantando músicas românticas Alcione continua ótima, mas quando "ouve" o chamado do samba, fica melhor ainda.

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