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Show 'Estratosférica' traz Gal Costa em estado de graça


Gal Costa cantou (muito bem), dançou e até ensaiou uma das suas famosas corridinhas, comuns nos anos 1980, no palco do Vivo Rio, na estreia carioca do show ‘Estratosférica’, na noite de sábado, 10 de outubro de 2015. Irradiando felicidade e segurança, a cantora comemora seus 50 anos de carreira nos braços de uma nova legião de fãs, que se aproximou a partir do disco/show ‘Recanto’. Os 70 anos lembrados por ela em ‘Meu nome é Gal’, primeiro número do bis, parecem não pesar. Sem concessões ao seu passado de excelente intérprete de mestres como Ary Barroso, Dorival Caymmi e Tom Jobim, ou mesmo de alguns medalhões da MPB também associados à sua discografia, como Chico Buarque e Djavan, a baiana priorizou seu lado mais roqueiro no roteiro que inclui a inédita ‘Pelo fio’ (Marcelo Camelo), ‘Cartão postal’ (Rita Lee/ Paulo Coelho) e ‘Os alquimistas estão chegando’ (Jorge Ben Jor), entre outras surpresas. Os arranjos executados pela competente banda formada por Thomas Harres (bateria), Maurício Fleury (teclado), Fábio Sá (baixo) e Guilherme Monteiro (guitarra) seguem a sonoridade do álbum homônimo (embora em roupagem menos eletrônica) de onde saíram músicas que, no geral, cresceram no palco – principalmente ‘Ecstasy’ (João Donato/ Thalma de Freitas) e ‘Dez anjos’ (Milton Nascimento/ Criolo) – graças ao domínio interpretativo de Gal. A inteligente sequência inicial é arrasadora: um rock, ‘Sem medo nem esperança’ (Arthur Nogueira/ Antonio Cícero), um blues, ’Mal secreto’ (Jards Macalé/ Waly Salomão) e uma balada lisérgica, ‘Jabitacá’ (Lirinha/ Júnior Barreto/ Bactéria), que não deixam a plateia respirar. Impressiona a potência vocal da cantora, assim como suas interpretações perfeitas. Contudo, essa sonoridade que eleva a temperatura em ‘Como dois e dois’ (Caetano Veloso) e ‘Arara’ (Lulu Santos), outros momentos estratosféricos do espetáculo, parece pesar em ‘Cabelo’ (Jorge Bem Jor/ Arnaldo Antunes) e em ‘Pérola negra’ (Luiz Melodia), que não chegam a decolar. Gal também brilha em momentos mais íntimos, como quando, solitária em cena, relembra ‘Acauã’ (Zé Dantas) apenas com as bases pré-gravadas, ou nos números de voz e violão, ‘Três da madrugada’ (Carlos Pinto/ Torquato Neto) e ‘Pelo fio’, a bossa nova inédita de Marcelo Camelo. Acompanhada por seu tímido violão Gal relembra ‘Sim, foi você (Caetano Veloso), música que marcou o encontro com aquele que viria a ser seu compositor mais importante. O mesmo que volta a ser belissimamente interpretado no segundo bis, ‘Você meu deu’ (Caetano Veloso/ Zeca Veloso), cuja singeleza é realçada pela doçura do canto cristalino de Gal. A alta voltagem de ‘Vingança’ (Lupicínio Rodrigues) encerra a noite com o público em estado de graça, como a dona da noite.

Comentários

DyNozzo disse…
GAL é perfeita, linda, maravilhosa. A maior cantora do Brasil.
Simara disse…
A maior cantora que o Brasil já teve! E ainda tem!

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