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Toni Ferreira apresenta boas credenciais em seu álbum de estreia


Lançado pela gravadora Universal Music, o disco de estreia do cantor e compositor paulista Toni Ferreira traz seu nome como título. Nada mais natural para quem quer mostrar seu trabalho em um país dominado por vozes femininas. Os jovens cantores estão aí, mas curiosamente poucos conseguem se destacar nacionalmente. A julgar pela apresentação, Toni parece ter as credenciais necessárias para alcançar o sucesso. A voz agradável, cujo timbre moderadamente rascante lembra o de Cazuza (1958 – 1990), conquista. Bem produzido por Pélico e Jesus Sanchez, o CD ‘Toni Ferreira’ apresenta uma sonoridade enxuta e elegante. Entre violões de vários tipos, samplers e firmes delicadezas, a voz do cantor está sempre em primeiro plano.
O álbum enfileira potenciais hits radiofônicos como ‘Olha só’ (Pélico), ‘Te falo amanhã’ (Maria Gadú), além da bem escolhida primeira faixa de trabalho, ‘Saber de uma alma’ (João Guarizo) – impregnada por uma sensação de nostalgia que transborda em outros momentos, como em ‘Repousar’ (Pélico).
O compositor Toni Ferreira também soa atraente, principalmente no fado ‘Leve’, enquanto o discurso panfletário do blues ‘Reflexo de nós’ destoa das demais faixas. A inegável influência da amiga Maria Gadú na natureba ‘Manjubá’ (Toni Ferreira/ Camila Kenmotsu/ Eduardo Pitta/ Eduardo Luca) não chega a comprometer. Toni ainda assina ‘Paira’, com Luis Kiari, Fred Sommer, Gugu Peixoto, e a faixa-bônus ‘O barco’, com João Guarizo e Bianca Godói, extraída do projeto ‘Sarau’, lançado pela mesma Universal Music em 2012.
Entre regravações nada óbvias, Toni faz bonito, sobretudo em ‘Amor pra que nasceu’ (Martinho da Vila, 1969), acompanhado pelo piano Eron Guarnieri. De um disco lançado em 1979 por outro sambista, Agepê (1942 – 1995), o moço pescou ‘Marca de espinho (Palhaço que eu fui de você)’ (Mito/ Carlos Barbosa). O arranjo certeiro de ‘Menino deus’ (Caetano Veloso, 1982) corrobora a boa escolha do repertório.
Fazendo sua voz soar precisa, sem os malabarismos vocais exibicionistas comuns em cantores estreantes e outros nem tanto, Toni Ferreira acena para a linhagem de bons intérpretes masculinos da música popular brasileira. 

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