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'Bonito': A delicadeza pop de Daniel Lopes



“Eu quero ser cool/ mas não levo jeito”, cantava um sarcástico Daniel Lopes no CD de estreia do Les Pop, trio formado pelo cantor e compositor carioca, Rodrigo Maranhão e Thiago Antunes. Ironias à parte, o estilo ambicionado pelo artista dá o tom em ‘Bonito’, seu segundo disco solo, lançado pela gravadora Coqueiro Verde. A delicada textura do álbum produzido em parceria com Maycon Ananias realça a ambiência cool, distante do irresistível pop-rock do Les Pop, mas igualmente sedutora. A participação da Orquestra Filarmônica de Praga contribui para a aura apurada de ‘Bonito’. Daniel se aproxima da produção mais tradicional da MPB, como comprova a bonita faixa ‘Distância’ (Daniel Lopes/ Omar Salomão), que conta com a afetuosa participação de Milton Nascimento. Generoso, Lopes divide os vocais com as parceiras Luiza Souto e Talita Castro, em ‘Coldest heart’ e ‘Medo de avião’ respectivamente. O dueto com a cantora Lia Sabugosa em ‘Visão do mesmo’ (Juliana Didone/ Daniel Lopes) soa mais interessante.
Bilíngue, ‘Bonito’ traz canções como ‘Sorcery’ (Daniel Lopes) e ‘Clumsy walk’ (Juliana Didone/ Daniel Lopes) que levam a música de Daniel para searas folks. A boa e conhecida pegada pop se manifesta ainda em ‘Conchinchina’ (Rodrigo Bittencourt/ Daniel Lopes) e na tristonha ‘Mercedes’ (Daniel Lopes), dos espertos versos “... não adianta se afundar/ Em Cocas Lights e potes de Mentos...”. Há ainda um valsa, ‘Pina’ (Daniel Lopes), feita sob medida para corações apaixonados. Em um inesperado tempo de delicadeza, ‘Bonito’ registra a contemporaneidade da obra do jovem e talentoso artista.

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