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Novo álbum de Línox, 'Me gustan las posibilidades', traz pop atraente



Chega a ser surpreendente a delicadeza de ‘Me gustan las posibilidades’ (Arterial Music/ Rob Digital), terceiro disco do cantor e compositor Línox.  Gravado em apenas seis dias, o álbum apresenta letras sutis que falam da vida e dos relacionamentos amorosos com inteligência que as distanciam das lamúrias radiofônicas contemporâneas. Formada por banjo (Línox/ Felipe Pinaud), contrabaixo (Lancaster) e acordeom (Humberto Barros), a base instrumental confere atraente sonoridade folk as onze faixas produzidas por Plínio Profeta e Lancaster. O resultado é um pop vigoroso alicerçado na poesia de Línox e, claro, na qualidade excepcional dos músicos participantes.
Canção de ares circenses, a sedutora ‘Crendice’ sintetiza intenções do título: “O que se pode, o que ser quer/ E o que não pode então já é/ Um jeito de acontecer”. A guitarra de Felipe Pinaud cria uma atmosfera road movie em ‘Até aqui’ (Línox) e ‘Palavras chaves’ (Línox/ Lancaster). Curiosamente a outrora instrumental ‘Asas da palavra’ encontrou na reunião aleatória de frases de poemas de Línox uma insuspeitada unidade musical.
A quase vinheta ‘Basta’ (“Se é vontade de Deus/ Então que fique assim/ Você se basta com os seus/ E eu que cuide de mim”) revela-se um tango onde Línox “resolve” a desilusão amorosa de maneira direta, sem choro nem velas.
A atitude positiva diante da vida está presente ao longo de faixas como a roqueira ‘Jogo da sorte’ (Línox) e as mais melodiosas ‘Surpresa’ (Línox) e ‘Além da paisagem’ (Línox), todas com pegada vintage de pop folk, bem conduzido pela voz suave, porém firme do cantor. Jacques Morelembaum participa de ‘Gavetas’ (Línox/ Alexandre Castilho) que encerra o delicado álbum.
Baterista por formação, Línox lançou seu primeiro disco como cantor e compositor em 2002. Desde então ele vem sedimentando sua carreira com apuro, sem pressa, sempre atento às possibilidades como atesta seu novo trabalho.

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