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Mario Adnet refaz caminhos históricos em 'Vinicius & os maestros'


Violonista, compositor, arranjador e produtor musical, Mario Adnet lançou importantes trabalhos sobre as obras de Moacir Santos (1926 – 2006), Tom Jobim (1927 – 1994), Baden Powell (1937 – 2000), Villa-Lobos (1887 – 1959) e Luiz Eça (1936 – 1992), entre outros grandes nomes da música popular brasileira. Desta vez, Adnet buscou parcerias (quase) desconhecidas de Vinicius de Moraes (1913 – 1980) com os maestros Claudio Santoro (1919 – 1989), Pixinguinha (1898 – 1973), Moacir Santos e Baden Powell. Tom, que mereceu dois belos CDs no projeto intitulado ‘+ Jobim jazz’, ficou de fora.
O álbum ‘Vinicius & os maestros’ traz 15 faixas elegantemente arranjadas por Mario e executadas por uma orquestra de 54 músicos reunidos para o projeto também concebido para o palco. O maestro Claudio Cruz é o regente convidado. Além das participações especiais de um time de músicos excepcionais como Jurim Moreira (bateria) e Armando Marçal (percussão), ‘Vinicius & os maestros’ traz ainda os tarimbados Dori Caymmi, Joyce e Sérgio Santos, ao lado de Mônica Salmaso e Tatiana Parra nos vocais.
Dori imprime a densidade dos Caymmi em ‘Lembre-se’ (Moacir Santos/ Vinicius) enquanto Joyce consegue dar certa leveza a ‘Medo de amar’ (Vinicius) e Sergio Santos passeia por ‘Mundo melhor’ (Pixinguinha/ Vinicius) com apuro.
Talhado para trazer à tona belezas atemporais, o canto de Mônica Salmaso abrilhanta seus números solos ‘Santinha lá da serra’ (Moacir Santos/ Vinicius) e ‘Canção de ninar meu bem’ (Baden/ Vinicius). Sua conterrânea, Tatiana Parra surpreende pela afinação e segurança nas solenes ‘Valsa de Eurídice’ (Vinicius) e ‘Em algum lugar’ (Claudio Santoro/ Vinicius).
Adnet consegue equilibrar com destreza o repertório composto por canções pouco gravadas como ‘Triste de quem’ (Moacir Santos/ Vinicius) e ‘Se você disser que sim’ (Moacir Santos/ Vinicius) e pelas clássicas ‘Samba em prelúdio’ (Baden/ Vinicius), ‘Consolação’ (Baden/ Vinicius) e ‘Lamento’ (Pixinguinha/ Vinicius). A boa interpretação coletiva do afro-samba ‘Canto de Xangô’ (Baden/ Vinicius) encerra o disco.
Através da obra de Vinicius, Mario Adnet refaz parte formidável da história da música brasileira ao lembrar os laços entre Claudio Santoro que tocou com Pixinguinha e foi professor de Moacir Santos, este, mestre de Baden Powell – que linhagem! Com seus belos arranjos e a qualidade inquestionável do repertório, ‘Vinicius & os maestros’ é item obrigatório para os amantes da boa MPB.

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