Pular para o conteúdo principal

O dono do enredo


Neto de cavaquinista e filho de compositor, Gusttavo Clarão é um verdadeiro fenômeno no mundo do samba. Nos últimos 20 anos, o moço venceu nada menos do que 14 disputas de sambas de enredo — é dele o elogiado samba que, ao receber nota máxima de todos os julgadores, ajudou uma desacreditada Mangueira a voltar no desfile das campeãs nesse Carnaval. “O samba, a bateria e o casal de mestre-sala e porta-bandeira levaram a escola”, diz, com modéstia, Gusttavo, que se prepara para gravar seu primeiro disco solo.
Conhecido entre os sambistas pelo cavaquinho luxuoso e pelas concorridas rodas que comanda, o niteroiense formado em medicina resolveu seguir os conselhos de bambas como Arlindo Cruz e Leandro Sapucahy, recrutado para produzir o CD. “É o momento dele, tenho ouvido suas composições, ele escreve muito bem. É um artista pronto”, elogia Sapucahy com a autoridade de quem produziu os vitoriosos álbuns de Arlindo e Maria Rita.
“Mas não vou largar o Carnaval”, avisa Gusttavo que também bate ponto como músico no ‘Esquina do Samba’ — cabine onde a Globo recebe os sambistas na Marquês de Sapucaí, pouco antes do desfile das escolas.
Clarão ganhou seu primeiro samba em 1989, na Estácio de Sá, em parceria com o pai, Déo. “Aprendi muito por lá, convivi com feras como Dominguinhos. Foi a escola adotada por minha família, já que na época a Viradouro não desfilava na Sapucaí”, conta. Em 1992 veio o único título da Estácio, com ‘Paulicéia Desvairada - 70 Anos de Modernismo’.
Depois de passar pela Mangueira no ano seguinte, onde foi campeão com ‘Dessa Fruta Eu Como Até o Caroço’, Gusttavo voltou a Estácio, saindo em 1997, para ingressar na Viradouro. Na escola de Niterói, venceu todas as disputas de 1998 a 2005 — com exceção de 2004, quando a escola reeditou a ‘Festa do Círio de Nazaré’, da extinta Unidos de São Carlos.
Este ano, além da Mangueira, Gusttavo também ganhou na Macha Verde, escola de São Paulo. Seu samba ‘Amor Verde e Rosa’ ficou em segundo lugar no 1º Concurso de Samba de Quadra promovido pela Light — o Troféu Jamelão — disputado por 800 sambas. “Quero mandar para a Beth Carvalho, quem sabe ela grava, é a cara dela”, diz.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A voz do samba - O primeiro disco de Alcione

  “Quando eu não puder pisar mais na Avenida/ Quando as minhas pernas não puderem aguentar/ Levar meu corpo junto com meu samba/ O meu anel de bamba/ Entrego a quem mereça usar”. Ao lançar seu primeiro disco, ‘A voz do samba’, em 1975, Alcione viu os versos melancólicos de ‘Não deixe o samba morrer’ (Edson Conceição/ Aloísio Silva) ganharem o país, tornando-se o primeiro sucesso da jovem cantora. Radicada no Rio de Janeiro desde 1967, a maranhense cantava em casas noturnas que marcaram época nas noites cariocas. Nestas apresentações, seu abrangente repertório incluía diferentes gêneros da música brasileira, além de canções francesas, italianas e norte-americanas também presentes no rádio. Enquanto isso, o samba conquistava novos espaços na década de 1970. Em 1974, Clara Nunes viu sua carreira firmar-se nacionalmente com o disco ‘Alvorecer’, do sucesso de ‘Conto de areia’ (Romildo Bastos/ Toninho Nascimento). No mesmo ano, Beth Carvalho obteve seu primeiro êxito como sambista com ...

Joias musicais de Gilberto Gil são reeditadas

               A Universal Music reabre seu baú de preciosidades. Desta vez, a dona do maior acervo musical do país, traz duas joias do cantor, compositor e violonista Gilberto Passos Gil Moreira, recentemente eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras. De 1971, o disco londrino, ‘Gilberto Gil’, reaparece em nova edição em vinil, enquanto ‘Refestança’, registro do histórico encontro de Gil e Rita Lee, de 1977, finalmente ganha versão digital.             Gravado durante o exílio do artista baiano em Londres, o quarto LP de estúdio de Gilberto Gil foi produzido por Ralph Mace para o selo Famous e editado no Brasil pela Philips, atual Universal Music. O produtor inglês também trabalhava com Caetano Veloso, que havia lançado seu primeiro disco de exílio no mesmo ano. Contrastando com a melancolia expressada por Caetano, Gil fez um álbum mais equilibrado, dosando as saudades do Brasil...

50 anos de Claridade

Clara Nunes (1942 – 1983) viu sua carreira deslanchar na década de 1970, quando trocou os boleros e um romantismo acentuado pela cadência bonita do samba, uma mudança idealizada pelo radialista e produtor musical Adelzon Alves. Depois do sucesso do LP ‘Alvorecer’, de 1974, impulsionado pelas faixas ‘Menino deus’ (Mauro Duarte/ Paulo César Pinheiro), ‘Alvorecer’ (Délcio Carvalho/ Ivone Lara) e ‘Conto de areia’ (Romildo/ Toninho Nascimento), a cantora mineira reafirmou sua consagração popular com o álbum ‘Claridade’. Lançado em 1975, este disco vendeu 600 mil cópias, um feito excepcional para um disco de samba, para uma cantora e, sobretudo, para um disco de samba de uma cantora. Traço marcante na trajetória artística e na vida de Clara Nunes, o sincretismo religioso está presente nas faixas ‘O mar serenou’ (Candeia) e ‘A deusa dos orixás’, do pernambucano Romildo e do paraense Toninho Nascimento, os mesmos autores de ‘Conto de areia’. Eles frequentavam o célebre programa no qual Adelzon...