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A Luz de um vencedor*


“O tempo que o samba viver/ O sonho não vai se acabar/ E ninguém vai esquecer, Candeia”. Os versos premonitórios de Luiz Carlos da Vila ecoam nas mais diversas produções culturais que lembram os 30 anos da morte do compositor portelense e líder comunitário, no próximo domingo.
Grande parte dessa produção é feita por jovens admiradores da arte e da personalidade forte — e por que não, contraditória — de Candeia, como constata o escritor João Baptista Vargens, que lança a terceira edição da biografia ‘Candeia, Luz da Inspiração’, na próxima saída do ‘Trem do Samba’ — da Central para Oswaldo Cruz, no dia 2 de dezembro. “O livro foi atualizado, registro as várias homenagens prestadas desde 1987 (ano da primeira edição), como teses universitárias, além de incluir 25 partituras e um CD com músicas inéditas, do meu acervo pessoal”, conta João Baptista.
A história do policial e sambista, que repensou a vida depois da briga de trânsito que o deixou paralítico, é contada na peça ‘É Samba na Veia, É Candeia’, de André Paes Leme, em cartaz de quarta a domingo, às 19h30, no Centro Cultural do Banco do Brasil. “Não é difícil perceber que em sua obra ganha densidade depois do acidente”, diz André.
Luís Fernando Couto, um dos diretores do recém-lançado documentário ‘Eu Sou o Povo’, se rendeu ao sambista. “A determinação dele era impressionante, assim como as composições, não tem uma palavra solta, tudo tem muito sentido”, afirma.
O mundo do samba também marca presença. “Cantarei uma seleção de sambas do Candeia, na próxima saída do trem”, avisa Marquinhos de Oswaldo Cruz, que garante que o trem vai partir da Central em homenagem ao compositor da Portela e fundador da Escola de Samba Quilombo, mesmo que não tenha patrocínio.
Para o ‘afilhado’ Arlindo Cruz, ainda é pouco. “Ele merecia um ano inteiro de homenagens. Deveria estar no mesmo patamar de Cartola”. João Baptista, que conheceu o portelense, morto precocemente, aos 43 anos, tem outra opinião. “Candeia é muito mais cantando na Lapa do que Cartola que, talvez, seja mais cultuado dentro da classe média. O Candeia é mais chão".

* Publicado no Jornal O Dia

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