Pular para o conteúdo principal

'Rio', o cartão postal de Joyce Moreno


Lançado originalmente no Japão, em 2011, pelo selo londrino Far Out Recordings, o álbum ‘Rio’, da cantora, compositora e violonista Joyce Moreno chega às praias nativas, via gravadora Biscoito Fino, a tempo de embarcar nas comemorações dos 450 anos da “Cidade Maravilhosa”. Reproduzidas no encarte, belas imagens de um Rio de Janeiro dourado, praticamente selvagem, com suas montanhas em contraluz, a esconder as favelas – e mazelas – são traduzidas em canções que também enaltecem as belezas naturais da orla carioca. São canções como ‘Adeus América’ (Haroldo Barbosa/ Geraldo Jaques), ‘Samba do carioca’ (Carlos Lyra/ Vinicius de Moraes), ‘Manhã no Posto 6’ (Armando Cavalcanti), ‘Valsa de uma cidade’ (Ismael Netto/ Antônio Maria) e ‘O mar’, movimento da ‘Sinfonia do Rio de Janeiro’ composta por Tom Jobim e Billy Blanco. Um deslocado samba paulista, ‘As mariposa’ (Adoniram Barbosa), surge unido ao carioquíssimo ‘Com que roupa’ (Noel Rosa), desfocando o cartão postal sonoro da cantora. Pela batida bossanovística do violão de Joyce também passam ‘Vela no breu’ (Paulinho da Viola/ Sergio Natureza), ‘Desde que o samba é samba’ (Caetano Veloso), ‘Mascarada’ (Elton Medeiros/ Zé Kéti) e ‘Feitio de Oração’ (Noel Rosa), além de canções de sua própria lavra, como ‘Rio meu’ e ‘Tardes cariocas’. Tudo correto, mas sem alcançar a tal decantada beleza, que faz o carioca aplaudir até mesmo o mais simples pôr-do-sol.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A voz do samba - O primeiro disco de Alcione

  “Quando eu não puder pisar mais na Avenida/ Quando as minhas pernas não puderem aguentar/ Levar meu corpo junto com meu samba/ O meu anel de bamba/ Entrego a quem mereça usar”. Ao lançar seu primeiro disco, ‘A voz do samba’, em 1975, Alcione viu os versos melancólicos de ‘Não deixe o samba morrer’ (Edson Conceição/ Aloísio Silva) ganharem o país, tornando-se o primeiro sucesso da jovem cantora. Radicada no Rio de Janeiro desde 1967, a maranhense cantava em casas noturnas que marcaram época nas noites cariocas. Nestas apresentações, seu abrangente repertório incluía diferentes gêneros da música brasileira, além de canções francesas, italianas e norte-americanas também presentes no rádio. Enquanto isso, o samba conquistava novos espaços na década de 1970. Em 1974, Clara Nunes viu sua carreira firmar-se nacionalmente com o disco ‘Alvorecer’, do sucesso de ‘Conto de areia’ (Romildo Bastos/ Toninho Nascimento). No mesmo ano, Beth Carvalho obteve seu primeiro êxito como sambista com ‘1...

Galeria do Amor 50 anos – Timóteo fora do armário (ou quase)

  Agnaldo Timóteo lançou o disco ‘Galeria do amor’ em 1975. Em pleno regime militar, o ídolo popular, conhecido por sua voz grandiloquente e seu temperamento explosivo, ousou ao compor e cantar a balada sobre “um lugar de emoções diferentes/ Onde a gente que é gente/ Se entende/ Onde pode se amar livremente”. A canção, que se tornaria um sucesso nacional, foi inspirada na famosa Galeria Alaska, antigo ponto de encontro dos homossexuais na Zona Sul carioca – o que passaria despercebido por boa parte de seu público conservador. O mineiro de Caratinga já havia suscitado a temática gay no disco ‘Obrigado, querida’, de 1967. A romântica ‘Meu grito’, feita por Roberto Carlos para a sua futura mulher, Nice, ganhou outras conotações na voz poderosa de Timóteo. “Ai que vontade de gritar seu nome, bem alto no infinito (...), só falo bem baixinho e não conto pra ninguém/ pra ninguém saber seu nome, eu grito só ‘meu bem'”, canta Agnaldo, que nunca assumiria sua suposta homossexualidade. ...

Joias musicais de Gilberto Gil são reeditadas

               A Universal Music reabre seu baú de preciosidades. Desta vez, a dona do maior acervo musical do país, traz duas joias do cantor, compositor e violonista Gilberto Passos Gil Moreira, recentemente eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras. De 1971, o disco londrino, ‘Gilberto Gil’, reaparece em nova edição em vinil, enquanto ‘Refestança’, registro do histórico encontro de Gil e Rita Lee, de 1977, finalmente ganha versão digital.             Gravado durante o exílio do artista baiano em Londres, o quarto LP de estúdio de Gilberto Gil foi produzido por Ralph Mace para o selo Famous e editado no Brasil pela Philips, atual Universal Music. O produtor inglês também trabalhava com Caetano Veloso, que havia lançado seu primeiro disco de exílio no mesmo ano. Contrastando com a melancolia expressada por Caetano, Gil fez um álbum mais equilibrado, dosando as saudades do Brasil...