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'Rio', o cartão postal de Joyce Moreno


Lançado originalmente no Japão, em 2011, pelo selo londrino Far Out Recordings, o álbum ‘Rio’, da cantora, compositora e violonista Joyce Moreno chega às praias nativas, via gravadora Biscoito Fino, a tempo de embarcar nas comemorações dos 450 anos da “Cidade Maravilhosa”. Reproduzidas no encarte, belas imagens de um Rio de Janeiro dourado, praticamente selvagem, com suas montanhas em contraluz, a esconder as favelas – e mazelas – são traduzidas em canções que também enaltecem as belezas naturais da orla carioca. São canções como ‘Adeus América’ (Haroldo Barbosa/ Geraldo Jaques), ‘Samba do carioca’ (Carlos Lyra/ Vinicius de Moraes), ‘Manhã no Posto 6’ (Armando Cavalcanti), ‘Valsa de uma cidade’ (Ismael Netto/ Antônio Maria) e ‘O mar’, movimento da ‘Sinfonia do Rio de Janeiro’ composta por Tom Jobim e Billy Blanco. Um deslocado samba paulista, ‘As mariposa’ (Adoniram Barbosa), surge unido ao carioquíssimo ‘Com que roupa’ (Noel Rosa), desfocando o cartão postal sonoro da cantora. Pela batida bossanovística do violão de Joyce também passam ‘Vela no breu’ (Paulinho da Viola/ Sergio Natureza), ‘Desde que o samba é samba’ (Caetano Veloso), ‘Mascarada’ (Elton Medeiros/ Zé Kéti) e ‘Feitio de Oração’ (Noel Rosa), além de canções de sua própria lavra, como ‘Rio meu’ e ‘Tardes cariocas’. Tudo correto, mas sem alcançar a tal decantada beleza, que faz o carioca aplaudir até mesmo o mais simples pôr-do-sol.

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