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O samba saboroso de Tia Surica


Iranete Ferreira Barcellos,uma senhora de voz potente e cozinheira de mão cheia, moradora de Oswaldo Cruz, resolveu comemorar seu aniverário em grande estilo, rodeada de amigos. “São 68 anos bem vividos”, diz Iranete, mais conhecida pelo apelido que ganhou da avó na infância: Surica.
Em show no Teatro Rival, hoje, às 19h30, a tia mais famosa da Velha Guarda da Portela vai reunir os companheiros Monarco, Dona Ivone Lara, Beth Carvalho e Marquinhos de Oswaldo Cruz — “Alexandre Pires e Jorge Aragão ficaram de aparecer”, entrega. E ela promete esticar os festejos. “Ontem fiz apenas uma ‘jantinha básica’ lá em casa, hoje tem o show e, dia 29, um feijão na Cidade do Samba”, anima-se.
Seu feijão, aliás, leva centenas de pessoas à quadra da Portela, no primeiro sábado de cada mês um sucesso seguido pelas co-irmãs. “A idéia é minha, da (pastora) Áurea, da Cristina e do Marquinhos da Oswaldo Cruz. Começamos com 250 pessoas no bar da Tia Vicentina. A Portela era um gigante adormecido, hoje em dia a quadra está bombando”, lembra a sambista.
Também responsável pelo renascimento do ‘Trem do Samba’, Marquinhos acompanha a carreira da cantora. “São poucas as pessoas que colocam tanto sentimento quando cantam. A voz da Tia Surica é inconfundível, assim como a do ‘Seu’ Monarco”, derrama-se.
Acompanhada pelo Grupo Semente e pelo maestro Paulo 7 Cordas, a aniversariante promete cantar sucessos como ‘Quantas Lágrimas’, de Manacéa, ‘Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida’, o hino azul-e-branco de Paulinho da Viola, e ‘Ditado Certo’, de Monarco.
A admiração pelo companheiro da Velha Guarda faz a pastora brincar. “É igual à Portela: se eu for falar de Monarco, hoje eu não vou terminar”, diz, parodiando o samba ‘Passado de Glória’, clássico do compositor. “Surica tem um passado digno, chegou a puxar o samba-enredo ‘Memórias de um Sargento de Milícias’, em 1966”, retribui Monarco, lembrando a vitória portelense embalada pela voz da pastora.
Em 2004, Tia Surica lançou seu primeiro disco solo e quer repetir a experiência. Enquanto não volta aos estúdios, ela divide seu tempo entre o samba e a culinária. “Não tem ciência, tudo o que você faz com amor, a tendência é dar certo”, ensina.

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