Pular para o conteúdo principal

Cadê a MPB?


Há dez anos fiz parte da equipe que criou a rádio MPB FM. Às vésperas da rádio entrar no ar, saíamos de madrugada em busca de CDs em supermercados 24horas para aumentar a discoteca. Meus próprios discos invariavelmente iam e voltavam e, assim, a programação musical tomava forma. Era um sonho fazer uma rádio que tocasse exclusivamente música popular brasileira. Leny Andrade, Fafá de Belém, Joanna, Fátima Guedes, Danilo Caymmi, Tunai e Alcione faziam parte da programação ao lado de Zélia Duncan, Cássia Eller, Adriana Calcanhotto, Caetano, Djavan e Bethânia. A rádio que hoje está no ar com o pretensioso slogan 'MPB é tudo' passa longe daquela de 2000.
Querendo se mostrar democrática, misturando Fábio Jr., Roberto Carlos e Carmen Miranda, a programação é confusa, incoerente. De que adianta ouvir uma ou outra canção de Nelson Cavaquinho e Cartola (grandes compositores, mas não excelentes cantores) se os melhores intérpretes pouco aparecem? Não se ouve os últimos trabalhos de Gal Costa, Milton Nascimento, Nana Caymmi, Elba Ramalho e muitos outros que ajudaram a formatar a MPB. Nem mesmo os sucessos que a rádio ajudou a criar ao longo dos primeiros anos de existência escaparam do corte. A cantora Simone gravou um CD ao vivo com a plateia formada por ouvintes da MPB FM e várias faixas tocaram na programação. Hoje não se ouve uma.
É óbvio que os novatos precisam aparecer - Zeca Baleiro, Rita Ribeiro, Mart'nália, Ana Carolina e Jorge Vercillo tiveram sua chance na programação e, até mesmo Zélia Duncan viu seu belo disco 'Eu me transformo em outras' ser abraçado pela rádio, quando nenhuma outra emissora o tocou - mas não podemos esquecer dos grandes.
Para ficar bem na fita com os moderninhos ditos formadores de opinião - e com os patrocinadores - a grade foi 'sublocada'. Todo mundo tem um programa na emissora. Ora, não se vê radialistas cantando por aí (para o bem de todos). Mas o pior é ouvir músicas em língua estrangeira (mesmo que sejam composições de brasileiros) numa rádio chamada MPB FM. No mínimo uma incoerência.
Se MPB realmente é "tudo", sugiro que a rádio comece a tocar Luan Santana, João Bosco & Vinicius, além do grupos de pagode de sucesso como Revelação e Sorriso Maroto, sem deixar de fora os sambistas, lógico. Sob a máscara da modernidade sem preconceitos a rádio é sectária. Talvez mais até do que quando realmente tocava o que se convencionou chamar de MPB.

Comentários

Unknown disse…
Clap, clap, clap!!!
Palmas!!!

A highlander...
Unknown disse…
Acho pertinente tais considerações sobre a MPB. Principalmente porque aprendi com Julio Biar a ouvir tudo que é e brota da Musia Popular Brasileira. Adoraria ouvir sempre e em qualquer dial composições e sucessos brasileiros. Quero mais Simone, Joanna,Zela Ducan e todos os talentos musicais e nacionais "invadindo" nossos ouvidos mal acostumados ao que´é e ao que deve ser bom.
Anônimo disse…
engraçado... mas ela foi eleita a melhor rádio do rio no ano passado... hunf
acho q você precisa rever seus conceitos... principalmente seus conceitos sobre rádio! o tempo passa e é preciso se reciclar se não vem os outros atrás e acabam nos atropelando!
Eleita por quem, caro anônimo?
Existe lugar para vários rádios, inclusive de MPB, no dial. A atual passa longe de ser boa.

Postagens mais visitadas deste blog

A voz do samba - O primeiro disco de Alcione

  “Quando eu não puder pisar mais na Avenida/ Quando as minhas pernas não puderem aguentar/ Levar meu corpo junto com meu samba/ O meu anel de bamba/ Entrego a quem mereça usar”. Ao lançar seu primeiro disco, ‘A voz do samba’, em 1975, Alcione viu os versos melancólicos de ‘Não deixe o samba morrer’ (Edson Conceição/ Aloísio Silva) ganharem o país, tornando-se o primeiro sucesso da jovem cantora. Radicada no Rio de Janeiro desde 1967, a maranhense cantava em casas noturnas que marcaram época nas noites cariocas. Nestas apresentações, seu abrangente repertório incluía diferentes gêneros da música brasileira, além de canções francesas, italianas e norte-americanas também presentes no rádio. Enquanto isso, o samba conquistava novos espaços na década de 1970. Em 1974, Clara Nunes viu sua carreira firmar-se nacionalmente com o disco ‘Alvorecer’, do sucesso de ‘Conto de areia’ (Romildo Bastos/ Toninho Nascimento). No mesmo ano, Beth Carvalho obteve seu primeiro êxito como sambista com ‘1...

Joias musicais de Gilberto Gil são reeditadas

               A Universal Music reabre seu baú de preciosidades. Desta vez, a dona do maior acervo musical do país, traz duas joias do cantor, compositor e violonista Gilberto Passos Gil Moreira, recentemente eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras. De 1971, o disco londrino, ‘Gilberto Gil’, reaparece em nova edição em vinil, enquanto ‘Refestança’, registro do histórico encontro de Gil e Rita Lee, de 1977, finalmente ganha versão digital.             Gravado durante o exílio do artista baiano em Londres, o quarto LP de estúdio de Gilberto Gil foi produzido por Ralph Mace para o selo Famous e editado no Brasil pela Philips, atual Universal Music. O produtor inglês também trabalhava com Caetano Veloso, que havia lançado seu primeiro disco de exílio no mesmo ano. Contrastando com a melancolia expressada por Caetano, Gil fez um álbum mais equilibrado, dosando as saudades do Brasil...

Galeria do Amor 50 anos – Timóteo fora do armário (ou quase)

  Agnaldo Timóteo lançou o disco ‘Galeria do amor’ em 1975. Em pleno regime militar, o ídolo popular, conhecido por sua voz grandiloquente e seu temperamento explosivo, ousou ao compor e cantar a balada sobre “um lugar de emoções diferentes/ Onde a gente que é gente/ Se entende/ Onde pode se amar livremente”. A canção, que se tornaria um sucesso nacional, foi inspirada na famosa Galeria Alaska, antigo ponto de encontro dos homossexuais na Zona Sul carioca – o que passaria despercebido por boa parte de seu público conservador. O mineiro de Caratinga já havia suscitado a temática gay no disco ‘Obrigado, querida’, de 1967. A romântica ‘Meu grito’, feita por Roberto Carlos para a sua futura mulher, Nice, ganhou outras conotações na voz poderosa de Timóteo. “Ai que vontade de gritar seu nome, bem alto no infinito (...), só falo bem baixinho e não conto pra ninguém/ pra ninguém saber seu nome, eu grito só ‘meu bem'”, canta Agnaldo, que nunca assumiria sua suposta homossexualidade. ...