Pular para o conteúdo principal

Em boa forma, Fernanda Abreu volta à cena com 'Amor geral'


Precursora do uso de samples e beats eletrônicos na década de 1990, Fernanda Abreu está de volta com ‘Amor geral’ (Garota Sangue Bem/ Sony Music). Doze anos após ‘Na paz’, seu último disco de estúdio, Fernanda atualiza seu suingue, escalando novos parceiros e produtores, sem perder a sonoridade personalíssima, marca indelével de sua carreira solo. Essencialmente romântico, ainda que muitas vezes dançante, ‘Amor geral’ relata partidas e chegadas, romances e cenas cotidianas sob a ótica otimista da cantora e compositora carioca. Produzida por Pedro Bernardes, a faixa ‘Outro sim’ (Fernanda Abreu/ Gabriel Moura/ Jovi Joviniano) abre a pista de dança contemporânea com o sedutor arranjo eletrônico embalando a letra esperta: “Sempre haverá outra esquina/ Outra beleza, outro cara, outra mina/ Sempre haverá um mané, sem noção, um otário/ Querendo atrasar”. Igualmente irresistível é ‘Tambor’ (Fernanda Abreu/ Gabriel Moura/ Jovi Joviniano/ Afrika Bambaataa), na qual Fernanda mais uma vez rende homenagem ao funk carioca. O mago Liminha assina a produção das elegantes e charmosas ‘Deliciosamente’ (Fernanda Abreu/ Alexandre Vaz/ Jorge Ailton) e ‘Saber chegar’ (Fernanda Abreu/ Donatinho/ Tibless/ Play Pires), faixas em que Fernanda celebra a vida e o amor. Fausto Fawcett e Laufer, parceiros de primeira hora, apimentam o romantismo de ‘Amor geral’ propondo um ‘Double love (Amor em dose dupla)’, com a sonoridade característica. Delicadas, ‘Antídoto’ (Fernanda Abreu) e ‘Valsa do desejo’ (Fernanda Abreu/ Tuto Ferraz) miram novas paisagens, além das pistas de danças. Há espaço também para a desilusão ralentada em ‘O que ficou’ (Fernanda Abreu/ Thiago Silva/ Qinho), canção de versos menos interessantes, mas ainda assim melhor do que ‘Pra quem’ (Fernanda Abreu/ Qinho), momento mais sem graça do disco. Espécie de vinheta, a faixa-título espelha os sentimentos controversos do nosso cotidiano e encerra o revigorante álbum com o qual Fernanda Abreu volta à cena musical em boa forma.   

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A voz do samba - O primeiro disco de Alcione

  “Quando eu não puder pisar mais na Avenida/ Quando as minhas pernas não puderem aguentar/ Levar meu corpo junto com meu samba/ O meu anel de bamba/ Entrego a quem mereça usar”. Ao lançar seu primeiro disco, ‘A voz do samba’, em 1975, Alcione viu os versos melancólicos de ‘Não deixe o samba morrer’ (Edson Conceição/ Aloísio Silva) ganharem o país, tornando-se o primeiro sucesso da jovem cantora. Radicada no Rio de Janeiro desde 1967, a maranhense cantava em casas noturnas que marcaram época nas noites cariocas. Nestas apresentações, seu abrangente repertório incluía diferentes gêneros da música brasileira, além de canções francesas, italianas e norte-americanas também presentes no rádio. Enquanto isso, o samba conquistava novos espaços na década de 1970. Em 1974, Clara Nunes viu sua carreira firmar-se nacionalmente com o disco ‘Alvorecer’, do sucesso de ‘Conto de areia’ (Romildo Bastos/ Toninho Nascimento). No mesmo ano, Beth Carvalho obteve seu primeiro êxito como sambista com ‘1...

Galeria do Amor 50 anos – Timóteo fora do armário (ou quase)

  Agnaldo Timóteo lançou o disco ‘Galeria do amor’ em 1975. Em pleno regime militar, o ídolo popular, conhecido por sua voz grandiloquente e seu temperamento explosivo, ousou ao compor e cantar a balada sobre “um lugar de emoções diferentes/ Onde a gente que é gente/ Se entende/ Onde pode se amar livremente”. A canção, que se tornaria um sucesso nacional, foi inspirada na famosa Galeria Alaska, antigo ponto de encontro dos homossexuais na Zona Sul carioca – o que passaria despercebido por boa parte de seu público conservador. O mineiro de Caratinga já havia suscitado a temática gay no disco ‘Obrigado, querida’, de 1967. A romântica ‘Meu grito’, feita por Roberto Carlos para a sua futura mulher, Nice, ganhou outras conotações na voz poderosa de Timóteo. “Ai que vontade de gritar seu nome, bem alto no infinito (...), só falo bem baixinho e não conto pra ninguém/ pra ninguém saber seu nome, eu grito só ‘meu bem'”, canta Agnaldo, que nunca assumiria sua suposta homossexualidade. ...

'Talismã': Bethânia entre o existencial e o popular - Há 45 anos

          Lançado em 1980, ‘Talismã’ manteve a popularidade e o êxito comercial conquistados por Maria Bethânia com seus álbuns ‘Álibi’ (1978) e ‘Mel’ (1979). Menos sensual e mais existencialista, o disco reúne composições inéditas que se tornaram sucessos, além de regravações de canções dos anos 1950. A tristonha ‘Mentira de amor’ (Lourival Faissal/ Gustavo de Carvalho) e o bolero ‘Eu tenho um pecado novo’ (Alberto Martinez/ Mariano Moares/ versão: Lourival Faissal) foram pinçadas do repertório de Dalva de Oliveira. O samba-canção ‘Cansei de ilusões’ é um clássico de Tito Madi. O mano Caetano comparece com quatro músicas novas: o marcante bolero ‘Vida real’; a delicada ‘Pele’, feita originalmente para Roberto Carlos; o místico samba ‘Gema’ e a impetuosa faixa-título ‘Talismã’, parceria com Waly Salomão. Feliz composição de Dona Ivone Lara, o samba ‘Alguém me avisou’ reúne Bethânia, Caetano e Gilberto Gil e se tornou um dos hits do disco. Gil é o autor de ‘...